Um dia com EDDIE VAN HALEN no BRASIL, 1983
Quando trabalhava em rádio os camburões viviam me dando geral. “Isso é velho”, “isso é decadente”, “isso está out”, mas a minha visão de cultura é muito em cima do SER e não do TER e não tem nada a ver com ontem, amanhã, hoje. O que é bom é bom. Assim como tenho o direito de achar o REM sensacional, continuar ouvindo compulsivamente Hendrix, Zeppelin, e adorando o Who, não significa que estou limado. Não quero saber da capa de Caras, ou da Quem, meu negócio é Jornal do Rock, Rock Brigade, Whiplash, entendeu? E Albert Camus, alguma coisa de Sartre, muitos beats e política, política, política.
Tive muitas experiências com a tropa de elite do Rock. Afinal não estou jornalista. Sou jornalista há 32 anos. Eddie Van Halen conheci no Rio. A rádio Fluminense foi a promotora do show da banda no Maracanazinho, ficou tudo acertado, mas na hora H o mexicano, molambeiro e safado do Alex Valdez, ex-cafetão do Van Halen, tentou nos dar uma rasteira. Não conseguiu porque se no México eles são bons de tortilla, em Niterói o negócio é rabo de saia e de arraia.
No dia do show, à tarde, eu perambulava nas imediações do hotel onde o Van Halen estava e vi o Eddie sair. Magrinho, baixinho, aquele sorriso de bêbado. Eram umas 4 da tarde. Cheguei perto, me apresentei e começamos a rodar ali pela Duvivier e ruas próximas que são o principal reduto da putaria nacional. Havia um muquifo chamado New Munique que as mulheres dançavam e cruzavam num palquinho redondo do tamanho de uma mesa de ping pong. Com meu inglês de Búzios eu mostrava a casa de baixíssima tolerância ao Eddie que, logicamente, estava fechada. Saudade do New Munique... Pois é, vamos lá. Ao lado, um botequim, daqueles que tem pirulito Zorro misturado com maço de Belmont, mariola, paçoca e muita, muita cachaça. Eddie caiu dentro. De cara, dois copos. Um de 51 e outro, se não me engano, de Praianinha. Ele queria fazer uma espécie de test drive com todas. Eu estava distraído com uma morena boa pra cacete que tinha parado ali perto, com uma amiga melhor ainda, e o Eddie virando, virando, virando, a ponto dos operários comentarem “o china manda bem”.
Deixei as mulheres (não chegamos a uma conclusão orçamentária) e voltei. No quinto ou sexto copo de cachaça que Eddie entornou, comecei a me preocupar. O cara tinha show naquela noite. E se caísse? E se fizesse coma alcoólica? Fiz um sinal do tipo “pega leve” e disse “slow, Eddie, slow”. Ele riu com os olhos mais chinas ainda. Na falta do que dizer, mandei “all the best cowboys have chineses eyes”, nada menos do que o nome do disco-solo de Pete Townshend que tinha acabado de desembarcar no Brasil. “Todos os grandes caubóis tem olhos china”, tradução do nome do disco.
Resumindo, depois de uns 10 (dez, ten !!!!) copos (aquele da média e pão com manteiga), o guitarrista deixou o bar pisando o asfalto com a precisão de um equilibrista de circo. Parecia a encarnação da canção de João Bosco e Aldir Blanc. Chato é que eu paguei a conta.
Eddie andava reto, seguindo em direção ao Leme (turistas, Leme fica a esquerda de quem vai pro mar) enquanto falava, pouco, do disco que estava tramando com Brian May, grande amigo, do Queen. Esse disco saiu. Gravado totalmente à bangu. “Nós vamos ligar as guitarras, os amps, atochar o volume todo e sair tocando”, disse Eddie que mostrava umas variações de humor e, eventualmente, dizia coisas desconectadas, mas mantendo a lucidez de quem bebe atalaia jurubeba e não 10 copos de cachaças variadas. De fato, em 84, eu acho, saiu um vinil de Brian e Eddie absolutamente demolidor. Uma jam de hard blues, cujo nome esqueci pois perdi esse disco. Percebi que Eddie Van Halen não estava muito bem e não agüentava mais o estrelismo “toda dando” do cantor e pansexual David Lee Roth, que passou as noites no hotel contratando damas profissionais (chegou a mandar subir 15 de uma vez) mas só ficava no telefone e cheirando cocaína. Marketing sexual. Os detalhes mais sórdidos estão no meu livro “A Onda Maldita” (www.aondamaldita.com.br ).
Senti que Eddie também tinha porrado de lado com o irmão Alex, monumental baterista, e segundo os seguranças estrangeiros (como sempre fofoqueiros) Alex estava pegando pesado com Eddie por causa da birita. “Meu negócio é tocar”, disparou na volta pro hotel como se dissesse “não suporto esse negócio de ser band leader porque enche o saco”. Ele entrou no hotel e só fui revê-lo no palco do Maracanazinho.
Van Halen abriu o show com a orgásmica “Hear About It Later”. Logo nos primeiros acordes caíram 18 nas primeiras filas, todos desmaiados com os tímpanos arrombados. Alex Porco Valdez mandou para a produção em Los Angeles o mapa da arena do Maracanã e os caras meteram som de Maracanã no Maracanazinho. Eu me lembro da fileira: Marshall, Marshall, Marshall, Marshall, Marshall, no fundo do palco, mais os P.A.s completamente marcianos, coisas que nunca vi. As vidraças de vários apartamentos na avenida Maracanã quebraram. Vi gente vomitando por causa do impacto das ondas sonoras, vi a garotada rolando no chão mas a banda não aliviou.
Acidentalmente assisti ao show da arquibancada, lá em cima, e fiquei cinco dias com a sensação de ambulâncias no ouvido. Mas o que me surpreendeu foi o encachaçado Eddie tocar muito, muito, muito!!!!! Precisão absoluta, nenhuma asfrada, nenhum compasso de fora. Claro, rolou perda de memória com letras pois todo alcoólatra está apontado para arterioesclerose, mas o som estava perfeito. Como pode? Quando o concerto terminou, a galera deixou o Maracanazinho uivando, ululando, vomitando, defecando, urinando de alegria.
Mas, logicamente, o destino mandou seu garçom com a conta. No ano 2000 foi anunciado que Eddie estava com câncer no fígado e pâncreas. Levou até extrema-unção. Na época eu estava com a Rocknet on line e li a notícia aqui no Whiplash. A Rocknet funcionava no estúdio El Sonoro de Filipe Melo, o maior intérprete de Jimi Hendrix que já ouvi (e-mail filipemelo@infolink.com.br) e uma figura humana sensacional.
Li a notícia e saí. Fui andar, muito puto, triste, pensando no Eddie. Ou melhor, no fim de Eddie. Mais um que subia. Minha cabeça girava, pensei no levantamento feito por uma agência de notícias que contabilizou mais de 300 rockers mortos de 1954 até 2000. Motivos: 1) desastres de carro ou moto provocado por porrancas; 2) cirrose, pancreatite, falência múltipla de órgãos por causa de birita; 3) overdose de heroína, cocaína e afins. E por aí vai. Será que Eddie iria engrossar a lista?
Acompanhei dia a dia o noticiário aqui pelo Whiplash. Quando Eddie deixou as manchetes (na verdade as manchetes é que o deixaram em paz) percebi que alguma coisa boa tinha acontecido. Aconteceu. Uma cura milagrosa que médico nenhum consegue explicar. E o Eddie da rua Duvivier estará de volta em junho, mandando ver, no auge de seus 49 anos de idade. Esse a mulher de preto, cara branca e foice na mão não levou. Afinal, o mundo precisa de Eddies, gente de caráter, humildade, e overdose de Música nas veias.
(Texto de Luiz Antonio Mello, jornalista, escritor, publicitário, diretor de rádio e TV, roteirista)
"Isso é coisa de jornalista que não conseguiu fazer matéria e inventou qualquer coisa pro redator chefe. Imagine, vc passando por um boteco e ver o Eddie bebendo uma branquinha no balcão, sem guarda-costas..."
(Depoimento de Rafael Barcha, segurança do VAN HALEN no show do Maracanãzinho em 1983, sobre o texto acima)
Comentário final...
Confesso que a história é boa e encheu meus olhos d'água, mas...
Bem, me vejo no direito de opinar sobre o assunto, afinal de contas além de ser completamente louco, obcecado, doente e fanático pelo VAN HALEN, sou também um "estudioso" sobre a banda desde 1984.
Não pude ir ao show infelizmente, foi em 1983, eu tinha apenas 11 anos de idade. Embora não tivesse vivenciado tal fato, tenho minhas fontes a respeito.
Há controvérsias; primeiramente todos os shows do VAN HALEN daquela turnê foram abertos (sem exceção alguma) pela música "ROMEO DELIGHT", do álbum WOMEN AND CHILDREN FIRST (1980) e não pela música "HEAR ABOUT IT LATER" do álbum FAIR WARNING (1981), como afirmou o repórter. Aliás, esta música sequer foi executada em qualquer show desta turnê. Se acham que estou sendo um tanto quanto convencido sobre o assunto, basta consultarem o livro THE VAN HALEN ENCYCLOPEDIA, publicado em 1999 e que está aqui em minhas mãos. O livro relata todos os shows já feitos pela banda, locais e set-lists completos.
E só pra complementar, EDDIE VAN HALEN contraiu câncer na língua, e não no fígado ou no pâncreas como também foi dito...
Agora, que a situação do guitarrista é preocupante, isto é... Recentemente EDDIE VAN HALEN internou-se em uma clínica de reabilitação (notícia oficialmente publicada no site da banda: www.van-halen.com, a tradução pode ser vista no site: http://mtv.uol.com.br/drops/drops.php?id=14436) com problemas relacionados ao álcool dizendo não estar preparado para a turnê de reunião (com o primeiro vocalista DAVID LEE ROTH) que está sendo planejada para este ano de 2007.
Já não é de hoje que o guitarrista passa por este problema. A situação chegou a tal ponto de o casamento de EDDIE com a atriz VALERIE BERTINELLI ficar totalmente abalado em 1995 a ponto de sua esposa ameaçar a abandoná-lo por causa do vício.
EDDIE deu a volta por cima, largou a bebida, gravou com a banda o álbum BALANCE (1995), que até fala um pouco sobre o estado de sobriedade do guitarrista e chegou a mudar o visual radicalmente (corte de cabelo arrepiado e cavanhaque) mostrando sua nova fase.
Mas esta "nova fase" do guitarrista não durou muito. EDDIE voltou a beber, VALERIE BERTINELLI se divorciou conforme havia dito (após 24 anos de casamento) e ainda SAMMY HAGAR saiu da banda no final da turnê de 1996.
E ainda em meio a todos estes acontecimentos, uma quase volta de DAVID LEE ROTH em 1996 terminou na maior confusão no VMA'S daquele mesmo ano, GARY CHERONE entrou para a banda, gravou o álbum VAN HALEN 3, saiu em turnê com a banda em 1998 e foi só...
O álbum foi um fracasso, GARY saiu da banda logo após a turnê e o VAN HALEN se reuniu com SAMMY HAGAR novamente em 2005 para uma turnê REUNION. E tem mais! EDDIE se desentendeu com SAMMY no final da turnê novamente e agora pra complicar mais ainda se desentendeu também com o baixista MICHAEL ANTHONY, que está na banda desde o início, nos anos 70.
SAMMY e MICHAEL sairam da banda e EDDIE conseguiu um certo "entendimento" com DAVID LEE ROTH para uma nova turnê REUNION neste ano de 2007. O novo baixista? Bem, ninguém menos que o filho do próprio guitarrista, o jovem WOLFGANG VAN HALEN de apenas 16 anos de idade. Muita gente acha um absurdo, afinal de contas substituir MICHAEL ANTHONY no baixo pode até não ser muito difícil, mas quanto aos backing vocals que ele fazia... Vale ressaltar que foi graças ao jovem WOLFGANG (que é fanático pela banda do pai com a formação original) a idéia de chamar DAVID de volta a banda.
E pra finalizar, EDDIE VAN HALEN sequer apareceu na cerimônia do HALL DA FAMA no início deste mês. Nem ele, nem ALEX VAN HALEN (irmão baterista), nem DAVID LEE ROTH e GARY CHERONE sequer foi convidado. A banda foi representada na cerimônia curiosamente por dois ex-integrantes, MICHAEL ANTHONY e SAMMY HAGAR.
Só me resta agora torcer para meu ídolo se recuperar logo e que realmente, agora sim, dê a volta por cima, que volte a tocar logo com a banda, que venha para o BRASIL em turnê, que lancem um álbum novo, e que principalmente, supere os problemas com o álcool e tolices do tipo colocar sua atual namorada, uma atriz pornô como empresária e relações públicas da banda e de fazer a trilha sonora do mais novo filme da "atriz"...
Sem preconceitos, é claro...
Ricardo M. Freire