quinta-feira, agosto 19, 2010

Desvendando o filme "2001: Uma Odisséia No Espaço"

Desvendando o filme "2001: Uma Odisséia No Espaço"

Sem a menor sombra de dúvidas, "2001: Uma Odisséia No Espaço" é considerado um dos filmes mais complexos e enigmáticos da história do cinema.
O filme é um marco do cinema em muitos aspectos: visual, artístico, filosófico, cinematográfico, publicitário, sociológico, etc.
Escrito, dirigido e produzido durante 5 anos por Stanley Kubrick, 2001 foi lançado em abril de 1968, a tempo de predatar em mais de um 1 ano a ida do Homem à Lua com o máximo de fidelidade possível.
Foi baseado nas obras de Arthur C. Clarke, The Sentinel e 2001: A Space Odyssey, esta última escrita simultaneamente às filmagens. Enquanto Kubrick trabalhava em cima do roteiro, Clarke escrevia o livro, com ambos trocando idéias e opiniões durante o trabalho.
Numa era onde não existia computadores pra fazer efeitos visuais, os cineastas desenvolveram incríveis efeitos ópticos com truques de múltipla exposição no negativo. Kubrick se envolveu diretamente nesses efeitos, e com a ajuda de Douglas Trumbull, o filme levou o único Oscar, o de Melhores Efeitos Especiais de 1968.Outro destaque do filme é a impecável trilha sonora, composta entre outras por obras de Richard Strauss ("Also Sprach Zarathustra"), e Gyorgy Ligeti ("Lux Aeterna").
Mais de 40 anos depois, o longa-metragem de Stanley Kubrick é considerado um clássico, mas ainda gera discussão, seja por sua visão perturbadora do futuro, seja por sua estética e seus efeitos especiais inovadores.
Dentre infinitas dúvidas, especialmente uma pergunta continua sem resposta: qual era a mensagem que Kubrick e Clarke queriam passar?
“Se alguém entender o filme da primeira vez, nossas intenções terão falhado”, anunciou no lançamento Artur C. Clarke, co-roteirista e autor da obra original. Já Kubrick, se limitou a descrever "2001: Uma Odisséia No Espaço" como uma experiência intensamente subjetiva. "Todos são livres para especular à vontade sobre o significado filosófico e alegórico de 2001", disse Kubrick.
Hoje, absolvido pela história do cinema e pelos críticos de todo o mundo, o filme é uma unanimidade na maioria das listas dos melhores filmes de todos os tempos e sobrevive como uma obra atual e obrigatória.


O Filme

Podemos dizer que 2001 se divide em 4 partes:

- 1ª parte

Ao contrário de todos os filmes de ficção científica, 2001 inicia-se com o alvorecer na África pré-histórica, a 4 milhões de anos atrás.
O primeiro momento do filme é de total estranhamento. São quase 3 minutos de pura banda sonora sem nenhuma imagem.A tela escura e os sons abstratos e sombrios chamam a atenção, exacerbando a curiosidade, além de criar uma ambiência que tem a ver com o início dos tempos e o que é mostrado a seguir: a imagem do espaço, demonstrando a Terra, a lua crescente e o sol, denotando a previsão de um processo evolutivo.Vemos então a imagem do nascer de um dia, com sons de grilos e pássaros. Trata-se da "Aurora Do Homem". As imagens de um deserto com seres pré-históricos dividindo o espaço físico, são na verdade um retorno ao nosso passado, aos nossos ancestrais.Percebe-se nas primeiras imagens a guerra entre as variadas espécies, macacos com tigres e antas. Há elipses temporais criadas através de "fades" para significar a passagem de tempo.Logo após, acompanhamos a guerra entre seres da mesma espécie, os macacos, principalmente por localidades e água. Um dos macacos atravessa uma poça para demarcar seu domínio sobre a mesma.O tempo passa, os macacos começam a brigar entre si por comida e por espaço nas cavernas, onde se protegiam à noite. Sempre os que não conseguiam espaço ficavam grunhindo fora das cavernas, enquanto os de dentro respondiam com grunhidos mais altos.Vemos um macaco acordando e se assustando com o que vê: um monolito.Começa então a grunhir e propositadamente acorda os outros. Uma trilha sonora sempre acompanha a aparição do monólito durante todo o filme, é um som crescente, um conjunto de ruídos, vozes, com sons agudos. Os macacos estranham aquele objeto e se aproximam para verificar, tocando, cheirando, percebem que é uma superfície lisa com quinas, diferente das rochas grosseiras que estão acostumados a escalar.É inserido um plano, mostrando a Lua e o Sol alinhados do ponto de vista da Terra, mais precisamente do monolito, reforçando a idéia da temporalidade dos acontecimentos. O monolito surge no momento de Lua crescente, aquele descrito através das imagens no início do filme, significando período de evolução.Passam-se alguns dias e um grupo de macacos acha uma ossada de anta, a maioria não se interessa, mas um dos macacos permanece olhando para os ossos. Ele senta-se, olha como se tentasse decifrar um enigma e faz um movimento com a cabeça como se estivesse pensando, racionalizando algo.Nesse instante é introduzido novamente o plano do alinhamento visto do monólito e é inserida a música "Also Sprach Zarathustra", reforçando ainda mais a questão da temporalidade e da evolução.O macaco pega um osso entre vários, gira como um semi-círculo (movimento que representa a Lua crescente) e bate devagar contra os demais.Ele percebe a natureza do osso, que é mais resistente que os demais, começa a quebrar os outros ossos e, para segurar o osso com as duas mãos pela primeira vez, sustenta o corpo somente nas duas patas traseiras, quebrando o crânio da ossada.Há um corte para uma anta caindo morta.O macaco destroça o crânio, e vemos outra anta caindo, demonstrando a possibilidade de matar quantas quisesse.A face do macaco mostra seu momento de euforia, como num grito de "eureka", ele lança o osso para cima.Após isso, vemos uma seqüência de planos significativos. Um macaco sobe uma pequena ladeira como se tentasse se esconder, segurando um osso e comendo um pedaço de carne.Em seguida já vemos outro plano, onde vários macacos comem carne.O que está com o osso numa posição superior em cima de uma rocha, representa liderança.Depois de um último corte, a cena onde vemos macacos bem pequenos sentados e brincando com ossos, denota a passagem de conhecimento para as novas gerações.Algo aconteceu: o conhecimento. E foi inserido no cotidiano desses seres com momento demarcado: após a aparição do monolito, com a Lua crescente.
Uma imagem mostra mais um pôr do sol, que se olhado com atenção demonstra que a Lua, antes vista sempre crescente, agora está cheia, nova, denotando os momentos de mudança que virão a seguir.Os macacos que foram expulsos voltam de encontro à poça d’água do início do filme. Todos com ossos nas mãos, nota-se que somente esse grupo sustenta o corpo nos dois pés, o outro grupo não. O filme evidencia os macacos que têm os ossos nas mãos, demonstrando o poder da "arma" descoberta: o osso, o conhecimento.Não se contentando em obter comida, pois também querem água e espaço físico, matam um dos outros macacos do grupo oposto com os ossos.Na euforia da vitória, um osso é jogado pra cima, que agora gira subindo, formando um círculo completo (Lua nova).O osso sobe no sentido anti-horário e desce no sentido horário, um índice para o futuro que virá.Acontece aqui o maior corte temporal da história do cinema. A cena do osso que caía, é cortada para uma nave orbitando a Terra (num formato semelhante ao do osso) ao som da valsa "The Blue Danube", de Johann Strauss.
Explicação da 1ª parte

Numa fatídica noite a 4 milhões de anos atrás, uma poderosa força penetra no nosso sistema solar próxima a Júpiter. Destino: Planeta Terra. Durante uma noite, um monolito foi deliberadamente colocado na Terra por seres extraterrestres. Mas por quê? E por que, justamente aqui, próximo a uma tribo de macacos adormecidos? Kubrick não nos explica o que isso significa. Essencialmente representa um desafio... Espécie: Australopitecus afarensis; habitat: África Oriental; época: 4 milhões - 2,9 milhões de anos atrás; características: medo, curiosidade, coragem. Tais qualidades, e não propriamente o monolito, levaram os macacos a uma revolucionária invenção: a ferramenta.


- 2ª parte

Vemos aqui os países integrados na exploração espacial, com naves de várias nacionalidades (vê-se as bandeiras alemã e chinesa em duas delas).A caneta flutuando na gravidade zero nos remete inconscientemente ao osso flutuando no ar, e nos lembra que agora "a caneta é mais forte que a espada".A força bruta não é mais necessária, dando lugar à diplomacia, que se traduz na aparentemente amistosa conversa com os russos dentro da estação. Mas logo percebemos que o cientista Heywood Floyd esconde um segredo, do qual os russos desconfiam e mal conseguem esconder sua curiosidade. Comentaristas chegam a apontar essa cena como uma reprise "versão guerra fria" da briga pré-histórica pelo poço d'água (coincidência ou não, os participantes conversam ao redor de uma mesa circular com copos d'água).Descobre-se que um objeto foi enterrado deliberadamente na Lua há 4 milhões de anos. Por quem, nunca saberemos. É o monolito, o mesmo que apareceu para os macacos na pré-história. Em outra cena brilhante, Floyd toca o monolito com a mesma admiração que seu antepassado.Através do livro de Arthur Clarke, temos uma explicação mais detalhada para o que acontece em seguida: A luz do Sol toca o monolito pela primeira vez (ele foi escavado durante os 14 dias de noite lunar), e então ele emite um poderoso sinal de rádio, que interfere com os comunicadores dos astronautas, provocando um zumbido intermitente.Verifica-se também o mesmo alinhamento da pré-história, agora com a meia-lua (desta vez representada pela Terra) mais próxima do Sol.A montagem do filme tem características peculiares. Não há fusões, o corte seco é o mais utilizado, contrapondo planos as vezes não contínuos, usado para gerar significados e não simplesmente para contar linearmente a história. Quase sem diálogos, o filme é construído a partir da justaposição das imagens, alguns planos são longos e lentos, principalmente quando são mostradas imagens do espaço.É uma maneira de construir um clima para essas imagens, já que até então ainda não havia nenhum filme que retratasse com fidelidade como se portavam os objetos no espaço. A relação da não gravidade e do eterno movimento foi explorada com precisão. Por tratar de elementos que não existiam na época, foram necessárias várias cenas descritivas. Em alguns momentos parecemos assistir um documentário, como no processo do reconhecimento de voz ou nos longos planos demonstrando o interior das naves espaciais.Quando ocorrem diálogos, como os que acontecem na Estação, são cheios de significados, como os de Heywood quando encontra outras pessoas conversando. Eles falam em russo, deixando muito claro que, além de seus próprios nomes (Dra. Stretyneva e Dr. Andrei Smyslov), vemos uma discussão sobre a corrida espacial entre norte-americanos e russos, que acontecia na época do filme.Mas quem teria chegado primeiro? No diálogo posterior, isso é demonstrado, já que somente Heywood detém informações sobre o que acontece na Lua, explicitando quem está no comando.
Interessante também é a mensagem intertextual que existe numa sala por trás das pessoas que conversam na estação, uma palavra escrita em letras maiúsculas: HILTON, que é uma referência a tradicional rede de hotéis norte-americana, que possui sedes em vários locais do mundo.Há também uma cena interessante, quando a nave de Heywood está há caminho da Lua, alguns tripulantes assistem a imagens de lutas de sumô em telas widescreen, como referência a disputa da chegada na mesma.Além da clássica referência do supercomputador HAL, suas três letras precedem as letras de IBM, que é uma das maiores empresas de informática dos EUA.
É interessante notar como a fotografia dialoga com a montagem, como nas composições utilizadas nas cenas do espaço, a maioria dos objetos tem aspectos circulares e giram.Na cena que Heywood chega na estação, o elevador é circular.O movimento que a câmera faz é um "travelling" circular, e focaliza a Terra ao fundo nas janelas (tudo gira).O uso das cores também é marcante. O azul e o vermelho são as mais representativas. O vermelho sempre está associado ao perigo ou ao retorno ao passado, como às imagens avermelhadas do início do filme, nas paisagens desérticas ou ao "olho" de HAL, que se volta contra os seres humanos.O azul está relacionando com o futuro e esperança, como na vista da Terra do espaço ou na "criança estrela" do final do filme, além de alguns botões de dentro da nave.Os "flares" e os reflexos são muito bem utilizados. O primeiro é marcante nas cenas em que aparecem o monolito, dando um tom mágico. E o segundo, na parte frontal do capacete de David, sob seu rosto, principalmente quando reflete HAL, denotando um significado de unicidade entre os dois, dando a entender que existe algo de David em HAL e vice-versa.A fotografia nos remete aos efeitos especiais concebidos e dirigidos por Kubrick. O fotógrafo que existia antes de se tornar diretor de cinema aflorou nesse filme, que abusou das perspectivas para criar profundidade, iluminação impecável e angulações indescritíveis. O uso de cenários gigantescos e em tamanhos reais ou com possibilidades de movimentos antes nunca executados geraram imagens surpreendentes.As experimentações visuais, como a viagem através do "portal estelar" ou as imagens de Júpiter, com cores vibrantes, são marcas indeléveis nesse filme.Considerando que na época não existiam computadores para criar elementos virtuais, o filme demonstra profundo engajamento em técnicas de superposição e de trabalho com miniaturas e maquetes.

Explicação da 2ª parte

O ser humano está atingindo o auge de sua evolução. Espécie: Homo Sapiens; características: civilizado, racional, científico.
Mas, Kubrick sutilmente sugere que algo está errado. No espaço o homem perde o controle de suas ferramentas. Sem gravidade ele precisa aprender a andar novamente. Ele se alimenta de papinha e precisa reaprender a ir ao banheiro. O mestre do planeta Terra não passa de uma criança no espaço.Na sequência, Kubrick nos apresenta uma nova e sinistra personagem. As ferramentas estão tomando uma forma humana. Ao se deparar com o monolito na Lua, o Homem não demonstra medo ou surpresa. Em vez disso, ele faz vídeos e tira fotografias. A raça humana ainda tem muito que aprender... O monolito é deixado como um sentinela, vigiando até que ponto o homem progrediu.

- 3ª parte

Estamos agora na nave Discovery 1, rumo a Júpiter, em busca do destino do sinal de rádio. Vemos o astronauta Frank Poole correndo em círculos, no que parece uma versão gigante e futurista de uma roda para ratos. De fato, os humanos na nave são meros passageiros/prisioneiros, pois quem controla tudo na verdade é o computador HAL 9000. A sigla HAL é uma "homenagem" (na verdade uma crítica) à empresa de computadores IBM (mova cada letra uma posição no alfabeto pra trás e você terá HAL). Na época em que o filme foi feito, a IBM era mais poderosa e influente do que a Microsoft e a Google somadas.
Uma das características peculiares do filme, é que seus protagonistas somente aparecem depois dos primeiros 50 minutos de filme, logo após a segunda aparição do monolito na Lua, quando esse envia um sinal para Júpiter. Há sempre uma questão de aparição x evolução: o monolito está na Lua sinalizando um acontecimento do conhecimento, intelectual, é como se acompanhasse nossa evolução, que cada vez mais deseja ir mais longe.David Bowman (Keir Dulela) e o computador HAL 9000 (representado pela voz de Douglas Rain) são os personagens principais. As suas características são quase invertidas propositadamente. Bowman é tranqüilo, seguro e prático, já HAL, que é a máquina, é curioso, orgulhoso, mentiroso e ambicioso.HAL, que foi criado pelo homem, incorpora seus defeitos e volta-se contra o próprio homem, como o macaco no início do filme que não admitiu ter somente a comida, e foi de encontro aos seus semelhantes, matando-os para tomar-lhes água e espaço.
Bowman e HAL surgem na viagem para Júpiter, a bordo da nave Discovery, que possui uma semelhança a um espermatozóide, semelhança que nos remete a imagem final do filme, a gestação da "criança estrela".A aparição dessa nave e dos tripulantes representam um segundo momento do filme. Nota-se isso, pois até a trilha sonora é distinta. A valsa de Johann Strauss dá lugar ao "Ballet" de Khatchaturian.
Durante a viagem, o computador acusa um defeito na unidade de comunicação. Ao averiguar o defeito, percebe-se que a unidade estava funcionando bem, o que significa que o computador HAL aparentemente está com alguma falha.Muitos interpretam o comportamento de HAL como uma falha, mas há pistas que indicam que HAL poderia estar jogando com os astronautas da mesma forma que ele aparece jogando xadrez, e esta é uma cena reveladora. Kubrick era amante de xadrez, e colocou HAL jogando com o astronauta Poole uma partida que realmente aconteceu em 1910, entre Roesch e Willi Schlage. Acontece que HAL faz o movimento correto, mas diz de forma errada: "raínha para bispo 3", quando o correto seria: "raínha para bispo 6". Um erro bobo de um computador pirado, um deslize de Kubrick ou um teste sutil de HAL para ver se Poole perceberia?A idéia do teste é importante porque é verbalizada e confirmada por HAL na próxima cena, onde ele pergunta (como quem não quer nada) a David sobre os rumores cincundando a missão, e o que ele achava disso. Só que David desconfia e responde com outra pergunta: "isso faz parte do nosso teste psicológico, não é?". Ao que HAL confirma, tira por menos ("é uma coisa boba"), dá uma "travadinha" e depois acusa o tal erro na unidade de comunicação. Erro, ou apenas outro teste?Notem o modo como cada astronauta reage à notícia de que HAL pode ter cometido um erro. Poole fecha a cara e cruza os braços. David inicialmente fica sem expressão, mas depois faz cara de "tudo bem" pra HAL (com sorrisinho e tudo) e inventa uma mentira pra poder falar em privado com Poole. Pra um computador que lê lábios e reconhece desenhos, é fácil perceber o descontentamento de Poole.Nunca saberemos, mas o modo como Poole se conforma com a derrota no xadrez sem perceber o erro de HAL pode ter feito do astronauta, na avaliação do computador, o elo fraco da missão. Nota-se o orgulho cego de HAL pela infabilidade quando, confrontado com o relatório do seu "irmão gêmeo" na Terra de que não havia defeito na unidade, HAL responde: "Falha humana. Isso já ocorreu antes, e sempre foi devido a falha humana". A superconfiança e o desdém de HAL para com os humanos fez da tripulação algo descartável, em face da ameaça de desativação.
Os tripulantes cogitam desativar HAL.Uma vez lá dentro da Discovery, a câmera de Kubrick (até então estável e com movimentos suaves) está "solta", agitada. David agora já não esconde sua expressão e podemos considerar como representação visual deste momento de mudança de mentalidade, a troca de cor do capacete de David, que passa a ser verde.Para se proteger (e, na lógica dele, proteger a missão), HAL mata a maioria dos tripulantes.
Passa-se a ouvir ruídos constantes de ventoinhas, como se fosse o coração de HAL, além da respiração de Bowman e o silêncio, usado depois da morte do colega de Bowman e do assassinato dos outros tripulantes que estavam hibernando.Depois das mortes, as imagens do espaço e do lado de fora da Discovery são sempre em silêncio, representado um luto às ações de HAL.
HAL é tudo aquilo que Bowman não quer mais ser, e pode matá-lo a qualquer momento. Entretanto, o astronauta David Bowman (Dave) consegue desligá-lo.
Numa das cenas mais marcantes do filme, enquanto suas placas do centro lógico de memória são retiradas, ele diz: "minha consciência está se esvaindo, eu posso sentir", e começa a cantar uma música que seu construtor o havia ensinado, na qual possui frases do tipo: "estou me sentido meio louco", ressaltando ainda mais a humanização de HAL.Quando Hal pede por sua "vida" e começa a cantar, vemos uma inversão de sentimentos e valores que é perturbadora, afinal de contas, Hal é o vilão. O computador volta ao momento do nascimento e repete o que disse na sua primeira apresentação. Aliás, pra quem tinha dúvida de que a sigla não é apenas uma coincidência com a IBM, HAL diz nessa cena que foi construído em Urbana Illinois e instruído pelo Sr. Langley, e então canta a música Daisy Bell. Na vida real o primeiro computador a ter sintetizador de voz foi o IBM 704, construído em 1962 no centro de pesquisa Langley, em Urbana Illinois. E a primeira música que ele cantou numa demonstração foi exatamente "Daisy Bell", e Arthur Clarke estava lá pra ver e ouvir isso.
No momento em que HAL usa o termo "I'm afraid" (literalmente "eu estou com medo"), num uso ultra-polido, este termo é entendido como "receio que", pra negar alguma coisa a alguém polidamente ("I'm afraid, I can't do that" - "receio que não possa fazer isso"). Mas, ao ser desativado, HAL usa esse termo indicando MEDO, de fato. E Kubrick pareceu querer reforçar isso pelo uso sistemático desse termo, inclusive por David, quando cogitam desligar HAL.
É importante lembrar que, após o desligamento de HAL, uma mensagem em vídeo pré-gravada diz que o computador só tomou conhecimento dos parâmetros da missão no meio da viagem, pra depois informá-la aos tripulantes quando estes chegassem a Júpiter.Então essa mudança de comportamento de HAL pode muito bem ter sido uma reação ao conhecimento da relevância da missão, e que os astronautas precisariam estar à altura dela.

Explicação da 3ª parte

Missão Júpiter. 18 meses depois do encontro com o monolito na Lua, uma nova criatura habita o buraco negro no espaço. Espécie: Computador HAL 9000; funções: o cérebro e o sistema central de Discovery. Então, para quê serviriam os humanos? Examinemos os mesmos humanos com os mesmos olhos de HAL: entediado, entediante, com seus jantares pré-aquecidos e sol artificial. Eles precisam estar praticamente mortos para conseguirem viajar longas distâncias pelo espaço. Os humanos são apenas técnicos de manutenção no final de seus processos evolutivos. A ferramenta de última geração não necessita mais desses "macacos". Então HAL comete um erro: ele prevê a falha total da antena da espaçonave. O drama espacial de Kubrick está começando... Em 2001, a cena do astronauta morto por HAL no espaço dura 3 minutos. A Respiração... No espaço, o homem é como um peixe fora d´água e computadores não necessitam respirar. Porém, computadores cometem erros. Quando a tripulação descobre o erro de HAL,
eles decidem desligá-lo. Entretanto, o homem perdeu o controle de suas ferramentas e HAL pensa que está vivo. A batalha entre o homem e suas ferramentas começa: "abra por favor as comportas, HAL". O computador vence. Mas HAL calculou mal a engenhosidade e a coragem daqueles "velhos macacos". O Homem mata o computador com a mais simples das ferramentas: a chave-de-fenda. Então HAL entendeu perfeitamente para que servem as ferramentas. Com a destruição de HAL, o Homem termina sua aliança evolutiva com a ferramenta, mas se encontra sozinho no espaço, com a morte se aproximando.

Continua...