quarta-feira, agosto 18, 2010

Desvendando o filme "2001: Uma Odisséia No Espaço" (continuação)

Desvendando o filme "2001: Uma Odisséia No Espaço" (continuação)

- 4ª parte

Após o desligamento de Hal, a nave Discovery vaga, aparentemente, com destino à Júpiter.Vemos David Bowman deixando a Discovery numa cápsula e embarcando numa viagem rumo ao desconhecido. Começa aqui, a parte mais enigmática do filme.Mais uma vez os planetas se alinham e o monolito vaga, como que na espera de Bowman para conduzí-lo, sabe-se lá para onde.Começa a jornada enigmática de Bowman e as imagens levam a entender que trata-se de uma viagem para outra dimensão.A imagem do olho de Bowman piscando, vista em cores distorcidas, evidencia que ele ainda está vivo e consciente, mas completamente estarrecido.Interpretações aqui são altamente subjetivas. A teoria mais interessante é a de que as imagens surreais que inundam a tela fazem referência, num nível subconsciente, a criação da vida no útero. Se formos analisar num aspecto Freudiano, a nave Discovery (com formato de espermatozóide) ejeta pela "cabeça" a cápsula de uma forma diferente das demais, como se tivesse cuspindo-a, ou ejaculando-a. Entramos então por uma fenda vertical culminando em as várias imagens fluídas que também lembram galáxias sendo criadas.Uma das imagens assemelha-se a um útero ou barriga gestante, e logo em seguida vemos outra que evidencia a viagem de um espermatozóide rumo ao útero materno.Ao fim da sucessão de imagens aquosas e orgânicas, aparecem 7 objetos lapidados em forma de octaedros ou bipirâmides quadradas. Tudo indica serem naves extraterrestres recebendo e escoltando David através de um portal, encerrando a parte da viagem através das luzes.A viagem continua por uma superfície rochosa, entrecortada por rios e mares vistos através de imagens com cores distorcidas.Vemos novamente a imagem do olho de David, mas desta vez sem as cores discorcidas, indicando que a viagem terminou, e ele ainda está vivo.De dentro da cápsula vemos, por entre a porta de saída, a imagem de uma sala e em seguida o rosto de David dentro do capacete demonstrando que está numa espécie de transe.David chega então, a uma sala totalmente decorada com mobília da era da renascença e quadros com cenas bucólicas da natureza (evidência clara ao Renascentismo, que significa um renascimento). Apenas o chão retro-iluminado alude a uma época futurista.Em cenas que alternam pontos de vista, David vê a si mesmo como uma outra pessoa, progressivamente mais velho.Poderíamos interpretar esta sequência no quarto como uma desintoxicação da dependência das máquinas, no momento em que vê a si mesmo, ainda mais envelhecido, sentado numa mesa fazendo uma refeição, já desfeito da roupa de astronauta.David quebra a taça de vinho, dando a entender que atinge um nível de consciência mais elevado. Na tradição judaica quebra-se um cálice ao fim da cerimônia de casamento. Há vários significados, mas um deles é que isso simboliza uma nova vida, um mudança de forma para todo o sempre, ou seja, de dois indivíduos passam a ser um casal. É possível traçar um paralelo da cena de David olhando para a taça com a do macaco olhando para os ossos no início do filme.David se volta para sua própria imagem, deitado na cama, ainda mais velho, já em estado terminal de vida. Sob a cabeceira da cama, vemos um largo espaldar verde, que coincide com a cor do segundo capacete usado por David, ainda a bordo da Discovery, pouco antes de desligar HAL.David agora já não esconde sua expressão de assombramento e a cor verde indica uma representação visual do momento de mudança de mentalidade. As imagens de David na cama e a bordo da Discovery usando o capacete verde estão interligadas.Da cama, David vê o monolito, e faz um gesto de tocá-lo, lembrando muito a pintura "A Criação de Adão", que o mestre renascentista Michelângelo fez no teto da Capela Sistina.David transforma-se então num feto.A câmera se aproxima do monolito, como se fôssemos transportados do local para a escuridão do espaço, de onde o feto, chamado no livro de "Starchild" ("criança estelar"), contempla o planeta Terra do alto, para depois mirar bem dentro de nossos olhos com um olhar perturbador que mescla sabedoria/velhice e inocência/infância.Bowman é "premiado" com o máximo da evolução transformando-se em estrela. É uma clara referência ao conto "Sentinela", também escrito por Arhur C. Clarke. No conto, Clarke diz que a quantidade de estrelas no céu é equivalente à quantidade de seres humanos que nasceram e morreram, então é possível que exista uma estrela para cada ser que existiu. Assim, várias pessoas podem ter se tornado estrelas em seu processo evolutivo, e isso será demonstrado em algum momento em sua vida, no filme foi o momento de Bowman.

Explicação da 4ª parte

O Homem venceu a batalha contra suas ferramentas e sozinho no espaço, ele se prepara para enfrentar o desconhecido. E as forças sobrenaturais que o conduziram até este momento estão esperando por ele. Não julguemos o quarto pela sua aparência. Imaginemos que ele está na quarta dimensão, representando o palco de kubrick
para o último ato de 2001. Aqui o Homem precisa enfrentar um desafio final: sua própria morte. O astronauta que chega no quarto e o idoso, são a mesma pessoa. Sentado à mesa, o Homem faz sua última ceia. O copo se quebra e o vinho ainda está lá: recipiente, conteúdo... Corpo, espírito. A evolução do Homem dependeu tanto de sua tecnologia que ela quase acabou substituindo-o, e no final tentou destruí-lo. Sem suas ferramentas e com seu corpo quase perecendo, o que sobrou do Homem? A luz não morre, e o Homem está pronto para dar seu próximo passo na evolução: seu corpo é deixado de lado e a criança estrela nasce.


Fontes: Kubrick 2001, Saindo Da Matrix, Tomada 1

9 comentários:

Anônimo disse...

Gostei bastante da sua observação sobre o filme, embora ele não seja um dos meus favoritos. valeu o oscar. aguardo atualizações. seu blog é otemo.

Anônimo disse...

Parabéns!
Sua explanação sobre o filme foi maravilhosa, e a fiquei impressionada como conseguiu desvendar tantos códigos do filme,(ex: IBM...e HAL).
algumas coisas eu até tinha entendido, como o monolito representar o conhecimento... a evolução constante do homem e o fim da vida, renascimento...
Mas tinha ficado muita coisa vaga na minha cabeça, mas depois de ler seu post, agora fiquei satisfeita! Entendi o filme!!
Celena

Anônimo disse...

Muito Obrigada!
Celena.

Blog disse...

Belo trabalho

Blog disse...

Belo trabalho

Anônimo disse...

Parabéns sua capacidade e sensibilidade para captar esses detalhes do filme são admiráveis.

Unknown disse...

muito bom

Anônimo disse...

Ótima resenha. Mesmo sabendo de qual fonte veio a inspiração de seu texto, deixo aqui o meu reconhecimento, por ter simplificado de uma maneira tão rica esse filme genial.
Agradecimentos direto de 2017.

Rodolpho. disse...

Parabéns pelo explicação do filme!!! Nunca vi o longa metragem... Mas ao ler seu texto fiquei perplexo sobre a evolução humana. E penso não se tratar apenas de ficção!!! É uma metáfora REAL da espécie humana!!!
Me permite fazer uma colocação que observei: quando alcançamos uma etapa superior da nossa evolução, regredimos uma fase da vida!!! Ou seja, na Terra somos mestres, "adultos", e "caminhamos" de forma ereta, segura, sem receios....
No espaço, mal conseguimos caminhar, e como "crianças", temos que aprender a caminhar e a descobrir tudo de novo !!!
Por fim, ao atingirmos a última fase da evolução, é preciso nascer de novo, como um feto em gestação. Reviver tudo o que for necessário, pois agora o que se vive não é mais o corpo (cálice), mas sim o espírito (conteúdo).