STEVE VAI em BH: eu fui, e chorei!
Belo Horizonte, dia 5 de novembro de 2007. Era pra ser apenas mais uma segunda-feira comum, ou mais uma ''segundona braba'' como todos dizem, mas havia algo de diferente no ar. E não era
o odor de álcool que meu corpo exalava referente à ressaca proporcionada pela comemoração do meu aniversário no dia anterior. Mas era o dia do show do maior guitarrista do mundo de todos os tempos, STEVE VAI, e ainda por cima a dois quarteirões de minha casa...Eu que no trabalho estava aflito; as horas não passavam e a ansiedade aumentava. Às 18:30 saí do trabalho e passei em frente ao local do show, a fila já estava formada e percebi que deveria me apressar caso não quisesse pegar um lugar ruim. Fui em casa tomar um banho, me troquei, comi alguma coisa e já saí logo na sequência.
Chegando no local do show, logo a primeira surpresa... Não havia ninguém na fila da área vip (que era o meu setor) e a fila já formada era do pessoal da pista. Resolvi então dar uma procurada num colega de ORKUT que me disse para procurá-lo na fila, mas impossível... O cara se descreveu como tendo cabelo comprido e usando camiseta preta com o logo do JACK DANIEL´S estampado. Claro que era como procurar uma agulha num palheiro... Resolvi então, evidentemente, desistir daquela procura impossível e garantir um bom lugar na fila. Mas não existia fila ainda, e com muita honra, fui o primeiro dela. Eram 20:00 no meu relógio...A galera ía chegando aos poucos, e logo atrás de mim já apareceram outras pessoas. Fiz amizades, claro que o assunto era só música, e me deu pena de um camarada que estava ainda com a bolsa e a roupa do serviço e que me dizia morar longe pra burro.
Gente de todas as idades e tribos, alguns vestidos normalmente, outros mostrando ser adeptos do ROCK N´ ROLL com as velhas calças jeans e tênis surrados, cabelos compridos, barbas mal feitas e as tradicionais camisetas pretas das mais infinitas bandas. Isso me fez voltar no tempo e me lembrar meus tempos de ''roqueiro'', como já dizia a madíocre REDE GLOBO e seus pobres telespectadores induzidos...
As portas se abriram, fui revistado e logo me colocaram a pulseirinha do meu setor, subi as escadas, as pernas tremiam e o coração batia forte. Como fui honrosamente o primeiríssimo, já fui logo garantindo meu lugar na mesa. A vista era perfeita, no segundo andar, a poucos metros do palco e com a quase visão de 180 graus, embora estivesse em uma das laterais do recinto. A casa tinha ar condicionado e garçons atenciosos, estava tudo perfeito... Logo as mesas ao meu lado se encheram e curiosamente havia uma senhora ao meu lado com seu filho que aparentava ter no máximo 15 anos. A mãe do garoto se mostrava assustada e parecia não entender nada do que estava acontecendo. As perguntas foram inevitáveis, é claro, mas acho um barato mostrar um pouco do que sei para os interessados. Do meu outro lado, um casal jovem bem tranquilo aguardava aos beijos e abraços a tão esperada hora.Um estrondo surgiu no palco, e no telão improvisado na frente do mesmo começaram a passar alguns video-clips de estilos bem variados. As vaias foram inevitáveis para aquelas novas e atuais bandinhas e nem o SYSTEM OF DAWN e GREEN DAY escaparam das vaias; safaram-se o velho e idolatrado AC/DC e o mestre JOE SATRIANI, ninguém menos que o próprio professor de guitarra de STEVE VAI.
Avistei o marido de uma prima e grande amigo, Roberto ‘’Pardal’’, e me sinalizava pra ir até o camarote, mas resolvi não arriscar a sair daquele bom lugar e sinalizei que depois iria procurá-lo. Finalmente as luzes se apagaram, a galera fez o espetáculo gritando o coro ''VAI, VAI, VAI, VAI, VAI" e com os punhos voltados para o ar. A escuridão era total e o espetáculo inicial ficou por conta da própria platéia que desesperadamente colocava seus celulares para o alto voltados para o palco. Uma saudação em voz de guitarra ouviu-se: ''WAH WAHHHH, WAH WAAAAHHHH'', uma espécie de ''olá, olá'' dita pela própria guitarra de STEVE VAI. Fiquei todo arrepiado instantaneamente, as lágrimas já se acumulavam nos olhos e a platéia foi a loucura quando acenderam-se as luzes.
Uma rajada de flashes de câmeras digitais foram disparados causando um efeito espetacular como se fosse de uma luz estroboscópica poderosíssima que estaria no palco.STEVE VAI parecia mais um "CAVALEIRO JEDI" empunhando uma guitarra IBANEZ em acrílico com uma luz fluorescente interna acesa. Que visual fantástico! A iluminação estava impecável e o som era tão limpo que dava a impressão de ser um CD gravado. Os graves eram fortes e estranhei não ver as caixas de grave no P.A., mas fui orientado no final do show que estavam por debaixo do palco.
Duas novas músicas vieram de início e deram seqüência para a maravilhosa TENDER SURRENDER, clássico do álbum ALIEN LOVE SECRETS. STEVE VAI foi, como sempre, espetacular e perfeito, conversou muito com o público (em inglês), apresentou a banda várias vezes, brincou, fez caras, bocas e caretas, duelos espetaculares com os violinistas, trocou de roupa quatro vezes, e sua performance foi de uma adrenalina fora do comum! Tocou de costas, com a língua e em certos momentos parecia que ía até mesmo fazer amor com a própria guitarra. Agradeceu infinitas vezes para a platéia e chegou a parar o show por um instante a fim de olhar, ainda que estarrecido, o carinho e o reconhecimento do público. Em certos momentos parecia querer olhar o rosto de todos da platéia, um-por-um dos que acenavam e gritavam seu nome.
O show evidentemente começou com atraso, estava marcado para as 22:30 e só foi começar às 23:15. Não me importei, é claro, com as horas mas quando lembrei que estava de relógio e que consegui enxugar as lágrimas a fim de ver as horas, já passavam das 2:00.O show foi bem divertido e variado, passando por momentos de delicadeza, suavidade e sensualidade (graças à violinista Ann Marie Calhoun) à até momentos de muita adrenalina e agressividade com VAI quase que arrancando a alavanca do corpo da guitarra e quase que querendo arremeçá-la para um dos lados!
Um espetáculo maravilhoso, perfeito, que deixou a platéia simplesmente boqueaberta e estarrecida! Fiz questão de passar o show completamente sóbrio por dois motivos: primeiro para não começar a “sair de órbita” e segundo para não ter que ir ao banheiro, já que num show do STEVE VAI estamos arriscados a perder um grande momento em frações de segundos.
Eu que havia transformado o corrimão da sacada da área vip em minha guitarra virtual particular saí completamente feliz da vida e aos prantos, pois foram vários momentos em que as lágrimas escorreram.
No final, após um “bis” já certo, o show encerrou-se com o hino FOR THE LOVE OF GOD do fantástico e consagrador álbum PASSION AND WARFARE pra fechar a noite com chave de ouro e pra deixar as lágrimas caírem de uma vez por todas! O gostinho de quero-mais ficou no ar quando VAI despediu-se dizendo “SEE YOU NEXT TIME”.
Mas a história não acaba por aqui... Quando eu já estava no camarote com o amigo Roberto e que começava minutos depois a relembrar momentos inesquecíveis do show, eis que abre a porta do camarin e que me deparo com a banda e o guitarrista saindo, vindo em minha direção ao encontro da escada que levava até a saída do local. Fui correndo até o corredor e vi os músicos da banda, até que finalmente avistei o guitarrista vindo sorridente e cumprimentando rapidamente todos que o cercavam. Instantaneamente e quase que, instintivamente, disparei um grito dizendo “STEVE, STEVE” e que para a minha surpresa ele me pareceu ter realmente me ouvido a ponto de olhar para meu rosto, sorrir e me dar aquele famoso tapinha na mão significando “valeu cara, foi demais”!
A essa altura eu já não enxergava mais nada na minha frente, parecia estar em outro plano de existência, e não sabia se enxugava o suor de sua mão que estava na minha mão, em minha camisa para guardá-la mais tarde num cofre, ou se eu chorava, dava risada, saía gritando de felicidade ou sei lá o quê...
Por fim, ainda consegui no final da noite, comer um “PF” no BAR DO BOLÃO e chegar em casa, mesmo que ainda em completo estado de choque às 3 da manhã...
Essa foi a minha história (assim como a de muitos outros que também foram assistir ao show)... Eu que sou apenas um cara que ama de coração as pessoas que fazem da arte e da música, momentos marcantes e inesquecíveis. Que ama as pessoas que realmente fazem de sua música, a sua e a nossa própria felicidade, usando de muito talento, sentimento, paixão e sinceridade.
Obrigado STEVE VAI, pela sua existência e por ter me feito feliz neste dia, mesmo que apenas por durante algumas horas...
Ricardo M. Freire
Obs.: Agradecimento a Rafael Pascini pelas fotos incríveis tiradas bem na frente do palco.