Dunga X Mídia
Ao contrário das Seleções da Itália, França e Inglaterra, se existe alguma crise na Seleção Brasileira, é uma crise para fora, que não envolve os jogadores. É uma crise de poder.
De um lado o poderoso sistema Globo, que carregou 300 profissionais para a África do Sul e quer um retorno para tanto. Em outras palavras, deseja o que querem os quase mil profissionais do Brasil que aqui estão: acesso. E quanto mais privilegiado, melhor.
Assim foi, assim é da índole e história da Globo, de emissora que no Brasil tem a dimensão que aí está.
O problema é que, na outra ponta, está Dunga, o Schwarzenegger. E como sabemos desde quando ele era o pitbull da seleção amarela, quando divide, o Dunga racha.
Está claro, cada dia mais claro, que secundado por quem ele confia e a quem tem como leais, casos de Jorginho e Taffarel, o técnico Dunga fechou um pacto com seus jogadores. De um lado ele, eles, do outro, o resto. Em especial a mídia e quem mais, dentro ou fora da seleção, não reze integralmente pela mesma cartilha.
Se há fissuras no chamado "grupo" não se sabe; não se sabe mesmo, não existem informações concretas que levem a dizer isso. Estas coisas, que sempre existem em agrupamentos humanos, costumam aparecer, vide França e Inglaterra, quando pintam os fracassos.
No Tempo Dunga na seleção não há fracassos; salvo na Olimpíada da China, quando máquinas se moveram para derrubá-lo. Como não há fracassos, parece evidente que Dunga escolheu um caminho: vencer ou vencer.
Por mais que pareça rudimentar a lógica "ou está comigo ou contra mim", o técnico da seleção já viveu e apanhou o suficiente para saber o que significa a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar.
Dunga, que apanhou injustamente entre as Copas de 90 e 94, cuja família teve que suportar o marido, o pai, o filho a carregar por 4 anos a negativa marca da "Era Dunga", certamente sabe o que alimenta contra si de rancor, de ressentimento, a cada bordoada que distribui.
Ele, que admitiu em 2007 não terem cicatrizado ainda as feridas da "Era Dunga", obviamente sabe que está jogando a cartada mais arriscada de sua vida profissional. A de construir para si mesmo a alternativa "vencer ou vencer". Para Dunga e seu grupo só uma coisa importa: vencer, ganhar a Copa do Mundo. Custe o que custar.Quando se decide por enfrentar a Globo, Dunga sabe que está encurtando seu caminho à frente da seleção brasileira, perca ou ganhe. Dunga sabe quais são e como se movem os interesses para a Copa 2014, e sabe quem maneja boa parte dos cordéis.
Nos idos da Copa América e Olimpíada, Dunga distribuiu fartamente bordoadas contra o sistema Globo. Durante e depois. Basta consultar os noticiários, capturar o que disse aqui e ali o técnico. São fatos.
Fato é, também, que depois disso tudo um acordo foi costurado. Com a participação do diretor de Comunicação da CBF, Rodrigo Paiva, encontraram-se o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, e um dos Marinho da Globo.
Selou-se, então, um acordo de paz, de convivência por conta dos mútuos interesses. Não por acaso duas entrevistas exclusivas ao Jornal Nacional na Copa das Confederações, não por acaso Dunga na bancada do Jornal Nacional depois da convocação para a Copa de agora.
Isso é inegável. São os fatos. Não há como negá-los.
Mas, havia, há um Dunga no meio do caminho. Com a mesma determinação que jogou em 94, que então protegeu Romário de si mesmo e do assédio da mídia, Dunga agora se fecha com seu grupo.
Recentemente Romário postou em seu twitter as seguintes mensagens de apoio ao capitão do Tetra: "parceiro Dunga, não perca o foco, vamos em frente e faltam 5 jogos!"
O herói do Tetra também postou em seu twitter: "a gente já sabe o que vai acontecer. Se o Brasil ganhar é obrigação, se perder não vou querer estar na pele do Dunga..."
Texto: Bob Fernandes / Fonte: Terra
quinta-feira, junho 24, 2010
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