O Super Sonic Car
Em menos de 10 segundos, o veículo atinge os 500 km/h, mas a velocidade continua aumentando: 600, 700, 900 km/h, num ritmo inacreditável. Em 31 segundos, o carro alcança o pico de 1.172 km/h e começa a desacelerar com ajuda de um pára-quedas. Por fim, freios em fibra de carbono param a máquina. O recorde de velocidade sobre o solo, que já durava 13 anos, foi vencido em menos de um minuto. Esta cena aconteceu na semana passada em Black Rock, uma região desértica no estado de Nevada, nos EUA. Mesmo depois desse recorde, o inglês Richard Nobel, pai do Thrust SSC (Super Sonic Car) ainda não se deu por satisfeito: planeja, para os próximos dias, aumentar ainda mais a velocidade final do carro e vencer a barreira do som, algo em torno de 1.230 km/h, dependendo da temperatura ambiente.
A "pista" é uma reta de 15 quilômetros sobre o leito de um lago seco, com chão liso e firme como cimento. Só algumas barracas e um grupo de pessoas quebram a monotonia do lugar. Têm como centro das atenções o que parece ser um caça a jato sem asas. É o Thrust SSC, um automóvel feito especialmente para bater o Land Speed Record, ou recorde de velocidade no solo. Ao volante, Andy Green, um corajoso piloto de bombardeiro da RAF, a Força Aérea britânica. As duas enormes turbinas urram e o monstro pintado de preto arranca, seguindo uma linha reta traçada sobre o chão.
Em 99 anos de medições foram registrados 63 recordes oficiais de velocidade, mas só meu carro será mais rápido que o som - acredita Noble. O trabalho de Noble com carros a jato começou em 1974. Ele queria que os ingleses voltassem a dominar as provas de velocidade máxima, que, desde os anos 60 estavam nas mãos dos americanos. Em 1977, o primeiro Thrust ficou pronto, mas capotou durante um teste a 320 km/h. Noble milagrosamente escapou sem ferimentos graves e já pensando num outro bólido. O inglês então formou uma empresa, obteve patrocínio e, em 1983, um novo carro, batizado de Thrust 2, bateu o recorde mundial andando a 1.019 km/h, com o próprio Noble ao volante. A marca parecia imbatível. No começo dos anos 90, porém, o americano Craig Breedlove, pioneiro dos carros a jato e cinco vezes recordista entre 1963 e 1965, anunciou que iria construir um novo carro e tentar retomar o título de "O mais rápido" para os EUA. Foi o que bastou para que Noble decidisse criar um terceiro carro a jato, o Thrust SSC.
Desta vez, o objetivo também era superar a velocidade do som. Ron Ayers, um pioneiro no design aerodinâmico (fez mísseis até se aposentar), foi convocado para o novo projeto em 1992 e, a princípio, recusou. - Acreditava que era impossível manter qualquer coisa no chão a mais de 1.200 km/h e carro seria só uma forma cara de matar alguém - diz Ayers. Depois de dois anos de estudos em maquetes e no computador, o veterano projetista descobriu a fórmula para segurar o carro no solo. As linhas começaram a tomar a forma definitiva. O design do Thrust SSC foi inspirado num dardo. O peso dos motores e da cabine fica concentrado na frente. Para manter a estabilidade e dar a sustentação aerodinâmica perfeita, o veículo recebeu uma cauda de caça a jato. A base do carro são dois motores a jato Rolls-Royce Spey, usados na versão inglesa dos caças Phantom. No total, a potência é de 106 mil cavalos. Entre as turbinas, fica o cockpit do piloto. Extremamente reforçado e com um duplo circuito contra incêndio, além de um sistema de oxigênio para o piloto. O Thrust tem quatro rodas. As duas da frente são fixas e ficam bem separadas, entre os motores e o bico do carro. A direção é feita através das duas rodas traseiras, dispostas uma na frente da outra.
Uma carenagem protege as rodas do empuxo na saída das turbinas. Nenhum tipo de pneu ou borracha resistiria a tanto esforço, assim, as rodas são de alumínio maciço. Elas têm que girar sobre o solo árido a 8.500 rpm, levando as dez toneladas do carro. Na hora de desacelerar, um pára-quedas é liberado a 970 km/h (nos testes e em menor velocidade, usa-se um pára-quedas de pequeno diâmetro, que é aberto a 320 km/h). Freios em fibra de carbono, acionados aos 200 km/h, também diminuem a velocidade e evitam que o pára-quedas se arraste no chão. Dentro da cabine, o piloto Andy Green tem acesso a comandos simples. No volante, em forma de meia lua, há teclas para abrir os pára-quedas e ligar o rádio (em contato permanente com a equipe). Como num avião, o painel é cheio de instrumentos. Duas pequenas luzes vermelhas indicam se é necessário fazer pequenas correções na trajetória para manter o carro na reta. O acelerador é acionado com o pé direito, como em qualquer carro convencional.
O freio é no pé esquerdo. Não há câmbio já que se trata de um carro movido a jato e o motor não tem qualquer ligação com as rodas. E a sensação de correr tanto? Em velocidade "baixa" (até 500 km/h) o Thrust desgarra um pouco e pede pequenas correções no volante. A partir daí, o carro vai ganhando estabilidade e, entre os 600 e 900 km/h, o piloto tem a estranha impressão que o mundo está em câmera lenta e o cérebro está funcionando bem mais rápido que o normal. Acima dos 900 km/h o fluxo de ar se torna visível e formam-se nuvens de vapor sobre a cabine. Mesmo com as rodas de alumínio maciço, o carro parece deslizar suavemente aos 1.000 km/h. O Thrust tem a força de mais de 1000 Ford Escorts ou 145 Formula-1, juntos. O recorde de Noble e Green está garantido por muito tempo: o rival americano Craig Breedlove não tem mais dinheiro para investir no Spirit of America, o único carro que seria capaz de enfrentar o Thrust SSC num "pega".
Especificações:
Motor - 2 Turbinas Rolls-Royce
Potência - 106.000 Hp
Velocidade Final - 1.172 km/h
0-1000 km/h - 16 segundos
Carroceria - Fibra de carbono
Ano de fabricação - 1997
Fonte: Fortune City / Sugestão: Julio Cleto
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