sábado, janeiro 26, 2008

Parabéns EDDIE VAN HALEN !

Parabéns EDDIE VAN HALEN !

Às vezes me pergunto: quantos guitarristas devem existir no mundo? Numa população de 6 bilhões, acho que 1 milhão é uma cifra razoável. Uma parcela ínfima da humanidade, mas, ainda assim, gente a dar com o pau. Sim, porque guitarristas não se contentam, e não podem se contentar, claro, em ser criaturas anônimas e pacatas como zeladores, advogados e gerentes de banco.
Eles cultuam, meio como qualquer músico, a ilusão de que são únicos, raros, insubstituíveis. E que um dia os holofotes da fama inevitavelmente irão apontar seus fótons para eles. Vejam bem: 1 milhão, 1 milhão de caras nessa trip. Claro, muitos deles vão dizer que seu barato se restringe a pegar a Stratocaster, plugar no Marshall de 15 W e tirar um sonzinho, só. Mentira. Eu duvido. Ainda que num plano de fantasia, de compensação de frustração, eles vão viajar, enquanto correm os dedos por manjadíssimas escalas pentatônicas.
Edward Lodewijk Van Halen. Esse é o nome verdadeiro do “bicho”. Nasceu na Holanda, em 1955. Imigrou pros EUA quando tinha 10 anos. Começou a tocar aos 12, idade em que também começou a “manguaçar” e fumar que nem uma chaminé. Há alguns anos teve um câncer na garganta, se curou, mas parece que continua querendo provar ao mundo que cigarro não é uma coisa tão oncogênica assim. Nesses tempos de histeria anti-tabagista, não deixa de ser uma louvável afirmação de “estou na minha e não venham encher meu saco”.
Dizem que o Eddie é amado pelos tocadores de guitarra. Será mesmo? Não vejo por quê. Um cara que condenou 99,999% dessa população de 1 milhão de guitar players à obsolescência, ao estabelecer padrões praticamente intransponíveis de excelência em seu instrumento, devia ser odiado. Deviam estabelecer o dia de malhação do Eddie, a exemplo do dia destinado a Judas Iscariotes. Mas a galera tem outros meios de ir à forra. E ir à forra acaba sendo partir para o culto dos assumidamente insuficientes guitarristas, como é o caso de muitos que se acham gênio da guitarra. Ou então torcer o nariz para o fato de Eddie ser um guitarrista de rock. E, pior: de uma banda de rock que “bombou” um sucesso atrás do outro na década de 1980.
Vamos aos fatos: em 1978, quando Eddie tinha 21 anos, saiu o primeiro disco do Van Halen. Se “Eruption”, seu número instrumental mais famoso, fosse suprimido do álbum, ainda assim a extraordinariedade de Eddie como músico estaria mais do que comprovada. O riff de “Ain´t Talkin´ `Bout Love” já se tornou canônico. O rítmo de “I´m The One” é puro ”bebop”. Nos álbuns seguintes da banda, mais assombros: a introdução de “Mean Street”, as acústica “Spanish Fly” e “Little Guitars”, e por aí vai...
Sobre o solo de “Beat It”, de Michael Jackson, foi o primeiro grande crossover de música pop e rock pesado. E há uma história curiosa: Eddie chegou ao estúdio, tocou o solo de improviso e Quincy Jones, o produtor do disco, imediatamente bateu o martelo: “pronto, valeu, vai esse mesmo”. Foi uma verdadeira e magnífica explosão de criatividade! Perfeita, singularíssima, num primeiro take. Creio que essa história exemplifique o grande traço distintivo do Eddie: o que ele toca soa sempre espontâneo, fresco, festivo, orgástico, irreprimível.
Instrumentista com uma capacidade técnica espantosa, inventor em várias instâncias, de toda uma gama de sonoridades novas. Inventor de um shape novo de guitarra, de um uso radicalmente novo para a alavanca de vibrato (foi responsável pelo desenvolvimento do sistema Floyd Rose), de técnicas como hammer-on e tapping. Eddie Van Halen, acima de tudo isso, virou do avesso o fraseado da guitarra, especialmente o rítmo. É nesse ponto que ele é um gênio inimitável. Seu fraseado é todo quebrado, sincopado, irregular, mas, ao mesmo tempo, nítido, fluidíssimo, sintético, eloqüente e rock´n´roll. Misturado a ruídos dos mais variados, como o de uma chave de fenda elétrica, que soa como um secador de cabelos, na faixa “Panamá”, do disco 1984.
A verdade é que raríssimos sequer entendem o que Eddie está tocando quando sola. E, se entendem, são incapazes de suas nuances de interpretação. A molecada se impressiona com o fato de Eddie ser veloz, mas não é bem por aí. Se a comparação procede, Eddie é veloz em Spa-Francorchamps. Seus concorrentes, em pistas ovais da Indy, são como o Piquet costumava se referir ao Nigel Mansell e outros: "idiotas velozes".
Os concorrentes, pois é, a molecada adora comparações. Não podem falar em Eddie que imediatamente citam os gatos que supostamente estão no mesmo saco que ele: o saco de gatos dos instrumentistas virtuoses. Yngwie Malmsteen, Joe Satriani, Steve Morse e outros... Comparações com o Eddie só podem ser feitas com o excelente Steve Vai. Mas, este ainda perde: Steve Vai tem algo de primeiro aluno da classe, sabe? Seu disco de primeira é o “Passion And Warfare”, de 1990. E como aluno do mestre Frank Zappa, vive cometendo vanguardices intragáveis. No fundo é um mágico, um ilusionista com uma capacidade aparentemente ilimitada na execução de seus truques.
Já o Eddie lida com outra ordem de demiurgia, sem dúvida superior: o encantamento. Sim, Eddie é um mago, um artista verdadeiro dotado de uma criatividade orgânica, um dos músicos mais inventivos de todos os tempos, não simplesmente um extraordinário David Copperfield tirando coelhos e semifusas da cartola.

Texto de Eduardo Haak


Obs.: Parabéns à EDDIE VAN HALEN, que completa hoje 53 anos de idade.
Só tenho a agradecer por sua existência. Fica aqui minha sincera homenagem ao meu maior ídolo e inspirador, que soube mostrar e resumir o que é felicidade num simples gesto de tocar guitarra, sempre com um sorriso maroto no rosto.

Ricardo M. Freire

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