Seleção Brasileira: 50 anos do título da Copa de 58
O Brasil festeja neste domingo os 50 anos da conquista de sua primeira Copa do Mundo de futebol. Mais do que isso, comemora um ponto de virada na história não só do futebol, mas também do próprio país.
O primeiro título
Era 29 de junho de 1958. Na Suécia, o mundo conhecia o primeiro título de uma seleção que é penta. Um 5 x 2 na final contra a anfitriã sagrou o Brasil como campeão invicto, passando por Áustria, Inglaterra e União Soviética, na primeira fase, País de Gales, nas quartas, e goleando a França na semifinal.
Nas cinco primeiras Copas, o Brasil acumulara mais desculpas do que glórias. Em 1930, tínhamos sido representados por uma seleção inferior. Em 1950, estávamos confiantes demais. Em 1934, 1938 e 1954, a culpa foi de juízes mal intencionados. Era consenso que havia atletas bons e sérios, mas que os bons não eram muito sérios e os sérios não eram muito bons.
Por isso, para levantar a taça Jules Rimet, o Brasil precisava de craques diferenciados e sérios ao mesmo tempo. E as preces foram atendidas. Pelé estreou e marcou seu primeiro gol em Copas, Garrincha apareceu para o mundo com seus dribles desconcertantes, Didi comandou o time, Vavá mostrou seu oportunismo...
Para comandar a equipe campeã, o escolhido foi Vicente Feola, auxiliar na dolorosa Copa de 1950. O comandante, pouco acreditado pelos jornalistas, montou uma base sólida, com Gilmar, Orlando, Bellini, Nílton Santos, Didi e Zagallo como titulares absolutos na Copa. Djalma Santos ganhou a vaga de De Sordi, machucado, na final. Vavá, Pelé, Garrincha e Zito se tornaram titulares ainda na primeira fase.
E foi aí que a seleção deslanchou. Com a base séria e diferenciada e a entrada de craques ao longo da Copa, o time se fortaleceu e ‘encaixou’, superando todos os adversários para levantar a primeira taça de Copa do Mundo.
O surgimento do Rei Pelé
Os franceses guardam até hoje na memória os três gols de Pelé naquela noite de 24 de junho de 1958. Cinco anos depois, em 28 de abril de 1963, o Brasil voltou a enfrentar a França, no estádio Olympique de Colombes, em Paris. E Pelé voltou a marcar três vezes, na vitória por 3 x 2. Foi quando o jornal France Soir deu a ele o nobre apelido de Le Roi, “O Rei”.
O futebol moleque de Garrincha
Se Pelé personificava a eficiência máxima num jogador de futebol, levando-se em conta o talento e preparo físico, Garrincha é o maior representante do "futebol moleque", em que um drible humilhante provocava entre os torcedores uma euforia até maior do que um gol. Enquanto Pelé é o primeiro representante e símbolo do profissionalismo no futebol brasileiro, Garrincha é o retrato da "época romântica".
Garrincha estreou contra a União Soviética, que vinha para a partida com fama de ter um "futebol de laboratório". Os soviéticos diziam saber como parar o Brasil. Devem ter perdido a tal fórmula no "laboratório da equipe", já que nos três primeiros minutos de jogo Garrincha já havia humilhado várias vezes a defesa adversária, mandado uma bola na trave e criando a jogada para o primeiro gol de Vavá.
Apesar das pernas tortas (a direita para fora e a esquerda para dentro, seis centímetros maior do que a outra), em sua melhor fase não havia zagueiro capaz de marcá-lo.
A camisa azul na final
Na Copa, só Suécia e Brasil jogavam de amarelo. Tradicionalmente, o time da casa usava o segundo uniforme quando o visitante tinha camisas semelhantes. Por isso, a comissão técnica do Brasil nem levou camisas azuis. Mas a Fifa decidiu que em Copas não há “time da casa”, apenas “país-sede”. E decidiu fazer um sorteio na sexta-feira. O Brasil perdeu e no sábado, véspera da decisão, o roupeiro Francisco de Assis saiu procurando camisas. Supersticiosa, a seleção tinha medo de a nova camisa dar azar na final. Foi quando se teve a idéia de associar a camisa à imagem de Nossa Senhora Aparecida, devido ao manto sagrado da santa, que era azul. Achou-se então, camisas de um tom azul escuro e sem a gola branca.
Durante a noite, Francisco ainda teve de despregar das camisas amarelas os escudos da CBD e pregá-los nas azuis. Consta que o kit completo – 13 camisas – custou 35 dólares. Em setembro de 2004, a camisa 10, de Pelé, foi arrematada num leilão por 105 600 dólares.
O elenco
- Vicente Ítalo Feola, 48 anos (1º de novembro de 1909), técnico
- Gilmar dos Santos Neves, 27 anos (22 de agosto de 1930), goleiro do Santos
- Djalma Santos, 29 anos (27 de fevereiro de 1929), lateral do Palmeiras
- Hideraldo Luiz Bellini, 28 anos (7 de junho de 1930), zagueiro do Vasco
- Orlando Peçanha de Carvalho, 22 anos (20 de setembro de 1935), zagueiro do Vasco
- Nilton Santos, 33 anos (16 de maio de 1925), lateral esquerdo do Botafogo
- Zito (José Ely de Miranda), 25 anos (8 de agosto de 1932), volante do Santos
- Garrincha (Manoel Francisco dos Santos), 24 anos (28 de outubro de 1933), ponta-direita do Botafogo.
- Didi (Valdir Pereira), 28 anos (8 de outubro de 1929), armador do Botafogo
- Vavá (Edvaldo Izídio Neto), 24 anos (12 de outubro de 1934), atacante do Palmeiras
- Pelé (Edison Arantes do Nascimento), 30 anos (23 de outubro de 1940), atacante do Santos
- Mario Jorge Lobo Zagallo, 26 anos (9 de agosto de 1931), ponta-esquerda do Botafogo
Outros convocados
- Carlos José Castilho, 31 anos (27 de abril de 1927), goleiro do Fluminense.
- Dino Sani, 26 anos (23 de maio de 1932), armador do São Paulo.
- Dida (Edvaldo Alves de Santa Rosa), 24 anos (26 de março de 1934), atacante do Flamengo.
- Joel Antônio Martins, 26 anos (23 de novembro de 1931), atacante do Flamengo.
- Mauro Ramos de Oliveira, 27 anos (30 de agosto de 1930), zagueiro do São Paulo.
- Moacir Claudino Pinto, 22 anos (18 de maio de 1936), armador do Flamengo.
- Mazzola (José João Altafini), 19 anos (24 de julho de 1938), atacante do Palmeiras.
- Newton De Sordi, 27 anos (14 de fevereiro de 1931), zagueiro do São Paulo.
- Oreco (Waldemar Rodrigues Martins), 26 anos (13 de junho de 1932), zagueiro do Corinthians.
- Pepe (José Macia), 23 anos (25 de fevereiro de 1935), atacante do Santos.
- Zózimo Alves Calazans, 26 anos (19 de junho de 1932), zagueiro do Bangu.
Jogos
- BRASIL 3 x 0 ÁUSTRIA
Data: 08/06/58
Local: Rimnersvallen (Uddevalla)
Árbitro: Maurice Guigue (França)
Auxiliares: Dusch (Alemanha Ocidental) e Bronkhorst (Holanda)
Público: 20.000 pessoas
Gols: Mazzola (37/1T), Nilton Santos (6/2T), Mazzola (44/2T)
- BRASIL 0 x 0 INGLATERRA
Data: 11/06/58
Local: Nya Ullevi (Gotemburgo)
Árbitro: Albert Dusch (Alemanha Ocidental)
Auxiliares: Zsolt (Hungria) e Loow (Suécia)
Público: 40.985 pessoas
- BRASIL 2 X 0 UNIÃO SOVIÉTICA
Data: 15/06/58
Local: Nya Ullevi (Gotemburgo)
Árbitro: Maurice Guigue (França)
Auxiliares: Jorgensen (Dinamarca) e Nilssen (Noruega)
Público: 50.928 pessoas
Gols: Vavá (3/1T, 31/2T)
- BRASIL 1 x 0 PAÍS DE GALES
Data: 19/06/58
Local: Nya Ullevi (Gotemburgo)
Árbitro: Friedrich Seipelt (Áustria)
Auxiliares: Dusch (Alemanha Ocidental) e Guigue (França)
Público: 25.923 pessoas
Gols: Pelé (20/2T)
- BRASIL 5 x 2 FRANÇA
Data: 24/06/58
Local: Solna-Rasunda (Estocolmo)
Árbitro: Mervyn Griffiths (País de Gales)
Auxiliares: Leafe (Inglaterra) e Wyssling (Suíça)
Público: 27.100 pessoas
Gols: Vavá (2/1T), Fontaine (9/1T), Didi (39/1T), Pelé (8/2T, 19/2T, 31/2T), Piantoni (38/2T)
- BRASIL 5X2 SUÉCIA
Data: 29 de junho de 1958
Local: Solna-Rasunda, em Estocolmo
Árbitro: Maurice Guigue (França)
Auxiliares: Dusch (Alemanha Ocidental) e Gardeazabal (Espanha)
Público: 49.737 pessoas
Gols: Liedholm (4), Vavá (9 e 32 do 1º); Pelé (10), Zagalo (23), Simonsson (35) e Pelé (45 do 2º)
A importância do título para o país
Além de abrir caminho para as quatro Copas que seriam conquistadas nos 50 anos seguintes (1962, 1970, 1994 e 2002), o que tornou o país o maior vencedor do futebol no planeta, o estilo apresentado na competição sueca também serviu para tornar o Brasil sinônimo de excelência nos gramados.
Junto com a maior potência dos gramados, nasceu em 1958 também a essência do futebol-arte. A escola brasileira de futebol consagrou o drible, a espontaneidade e a ofensividade em oposição à força e à disciplina do futebol europeu.
A conquista da Copa-1958 também não foi apenas esportiva. O título mundial colocou definitivamente o Brasil no mapa do mundo. Antes de pela primeira vez começar a exportar cultura, como faria nos anos seguintes com a Bossa Nova, os brasileiros se apresentaram ao planeta por meio do time do técnico Feola.
Fontes: Folha On Line / Placar / UOL
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