PINK FLOYD: A lenda do porco
Muitas são as lendas sobre o mundo da música e pricipalmente das bandas de rock e do gênero. Mas sem dúvida alguma, a banda recordista de histórias e lendas é o PINK FLOYD. Dentre elas, a mais curiosa é a história do porco que está sempre presente nos shows da banda até hoje e nos shows de Roger Waters, ex-baixista e vocalista que saiu da banda para seguir carreira solo em 1984.
Antes de contar-lhes a história do porco, é importante falar sobre o álbum ANIMALS, de 1977, ícone da lenda e que considero um dos mais interessantes e intrigantes da banda. Pra se ter uma idéia, não existe nenhum registro em video oficial sequer, sobre a turnê deste álbum.
Diga-se de passagem, o Pink Floyd possui uma das mais intrigantes biografias da cultura popular contemporânea, que reúne nada menos que o maior efeito colateral da história do rock, a cara da psicodelia britânica, o início do rock progressivo, extravagâncias de rockstar, nerdismo megalômano, um dos discos mais vendidos de todos os tempos, turnês biliardárias, uma separação traumática e o disco The Wall. Fora o nome, enigmático e simples, que ecoa bicho-grilos e professores de história, solos de guitarra e um imaginário incrível, músicas intermináveis e letras existencialistas.
ANIMALS (PINK FLOYD) - 1977
Faixas
"Pigs on the Wing (part 1)" (Waters) - 1:25
"Dogs" (Waters/Gilmour) - 17:08
"Pigs (Three Different Ones)" (Waters) - 11:28
"Sheep" (Waters) - 10:20
"Pigs on the Wing (part 2)" (Waters) - 1:25
Músicos
Roger Waters - baixo , voz, guitarra acústica (em Pigs On The Wing)
David Gilmour - guitarras , voz
Richard Wright - teclados
Nick Mason - bateria
Animals é um álbum do Pink Floyd, gravado no estúdio da banda Britannia Row Studios em Londres e editado em 23 de Janeiro 1977 no Reino Unido e em 2 de Fevereiro de 1977 nos Estados Unidos. É um álbum conceitual, que faz lembrar o famoso livro de George Orwell, O Triunfo dos Porcos e A Revolução dos Bichos. Uma nova mistura digital foi editada em 1994 no Reino Unido e em 1997 nos Estados Unidos, onde foi reeditado em 25 de Abril de 2000. Animals atingiu o 3º lugar nas tabelas da Billboard em 1977 chegando a disco de ouro em 12 de de 1977 e disco de platina em 10 de Março do mesmo ano. Vendeu 4 milhões de cópias até à data nos Estados Unidos e 7 milhões no mundo inteiro e é presentemente listado como quádrupla platina pela RIAA.
História
Ao longo das três músicas principais, todas elas com mais de 10 minutos de duração Roger Waters equivale os humanos a cada uma das três espécies de animais: cães (Dogs) porcos (Pigs)ou carneiros (Sheep). Os cães são usados para representar os homens de negócios megalomaníacos que acabam por serem arrastados pela própria pedra que atiraram. Os porcos representam os políticos corruptos e os moralistas (com referências directas a Margaret Thatcher e a Mary Whitehouse). Os que não se enquadram nestas duas categorias são carneiros, que sem pensamento próprio, cegamente seguem um líder.
As três faixas centrais são ‘limitadas’ por um par de canções de amor escritas por Waters para a sua mulher na altura, Caroline: Pigs on the wing partes 1 e 2. A mesagem destas duas músicas é de que enquanto duas pessoas se amarem, podem proteger-se dos males do mundo referidos nas três músicas do meio. Waters refere-se a si mesmo como sendo um cão na segunda parte da música. Na edição de 8 faixas em cartridge as duas faixas foram ligadas por uma parte de guitarra tocada por Snowy White. A Frog Brigade de Lee Claypool gravou o álbum inteiro nalguns concertos tendo eventualmente editado um álbum a partir dessas gravações.
A lenda do porco
O anúncio do álbum na época foi no mínimo espetacular. Construiu-se um artefato gigantesco em formato de um porco que, cheio de gás hélio, ficaria flutuando em volta da Battersea Power Station, uma usina elétrica instalada às margens do rio Thames. Um batalhão de fotógrafos foi chamado para testemunhar e fotografar o lançamento do ''balão'' de hélio, que foi construído na Alemanha, pela Baloon Fabrik, a mesma que fabricou os famosos zepelins. As fotografias seriam usadas na capa do álbum e no material promocional do novo álbum.
No primeiro dia, talvez por falta de combustível, o porco metálico não saiu do chão. No segundo dia, uma nova tentativa foi feita e desta vez o porco não apenas voou, como se soltou do cabo que o prendia e passou a flutuar livremente pelo céu. O primeiro a dar sinal da visão insólita foi um piloto de um avião que deu testemunho de sua visão depois de descer no aeroporto de Hearthrow. Foi dado o alarma aos aviadores de que um porco cor-de-rosa, com mais de 40 pés estava flutuando sobre Londres. O contato do radar com o ''bicho'' perdeu-se quando indicava que ele estava voando a 18 mil pés de altura em direção à Alemanha. Finalmente ele desceu à terra, ainda na Inglaterra, em Kent.
(Texto da revista PINK FLOYD (1965/2000) - A VIAGEM PSICODÉLICA, por René Ferri)
O porco de Roger Waters no estádio do Morumbi, Brasil
O som do show era "quadrifônico". A música vinha do palco; dos lados e de trás saíam vários efeitos sonoros, como no cinema. As caixas de som "surround" emitiam cantos de passarinhos e balidos de ovelhas. Era o começo de "Sheep", do disco "Animals". Depois do solo de guitarra, gritos tiraram minha atenção do palco e do telão. Um enorme porco gigante flutuou por sobre o público.
Procurei não ler nada sobre o show, para preservar eventuais surpresas. Em algum momento, ouvi algo sobre um porco inflável, sem dar maior importância. Não estava preparado para isso. O impacto visual foi enorme.
O ''bicho'' estava todo pichado com várias mensagens "customizadas" para o Brasil, em inglês e português. Na lateral estava escrito "All we need is education". No rabo lia-se "Bush, não estamos à venda". Na barriga, "O Brasil está sendo vendido". Ok, não dá para cobrar coerência de um porco que voa.
Puxado por cabos de aço, o balão deu uma volta olímpica pelo Morumbi. Depois de passar pela frente do palco, escapou das amarras que o prendiam e subiu aos céus, iluminado por um holofote e dois raios lasers. Comoção. Isso estava previsto? E se batesse num avião? E se caisse numa avenida movimentada? E a ordem pública?
"Where is my pig?", pergunta Waters, ao final da música.
Desde o final do show, uma questão atormentou parte dos 45 mil espectadores do show de Roger Waters em São Paulo: onde foi parar o porco que saiu voando do Morumbi?
Ao final do percurso, foi largado à própria sorte. Contrariando sua natureza de quadrúpede terrestre, subiu ao céu que tem um dos maiores tráfegos aéreos do mundo. Em seu pescoço, uma linha pontilhada com os dizeres "corte aqui". Convenhamos, é muita pressão.
E foi à pressão que o bicho não resistiu. Pressão interna, que ficava mais alta que a externa a cada metro que subia.
Não sabemos a que altitude chegou, mas é fato que sobrevoou o Jockey Clube, cruzou o rio Pinheiros e, cerca de seis quilômetros depois do ponto de partida, estourou, na madrugada de domingo.
Seus restos mortais se espalharam por uma área próxima ao cruzamento entre as avenidas Henrique Schaumann e Paulo VI, no bairro de Pinheiros.
O trajeto percorrido sugere que o porco ia do Morumbi para o Parque Antarctica - notório templo de adoração da figura suína, como poderá atestar qualquer palmeirense.
Ou talvez estivesse buscando nas chaminés das fábricas abandonadas da Lapa, mais adiante, uma paisagem parecida com a de seu local de nascimento - a capa do álbum "Animals", de 1977. O trágico passamento do mascote deixará para sempre a dúvida no ar.
Somente Daniel Moraes apresentou um testemunho acompanhado de provas - ele recolheu um pedaço do, digamos, pernil.
''Foi talvez mais surreal do que o próprio show... Estava em direção à Vila Madalena, vindo do Pacaembu pela avenida Sumaré. Havia um grande pedaço no meio da avenida, após a estação Sumaré do Metrô. Inocentemente eu desviei, e ainda reclamei da sujeira da cidade. Não progredi mais de 50 metros até notar que aquela lona rosa só poderia ter caído do céu para estar espalhada daquele jeito. Minha intenção é vendê-lo. Acredito que existem pessoas que podem dar a ele um destino melhor do que eu'', disse Daniel.
(Texto de Daniel Bramatti)
Por Ricardo M. Freire