terça-feira, abril 14, 2009

A perda do entusiasmo

A perda do entusiasmo

Charles foi reprovado em todas as matérias na oitava série. No segundo grau, foi reprovado em fí­sica com a nota mais baixa da história da escola. Também foi reprovado em latim, álgebra e inglês. O desempenho nos esportes foi insuficiente. Parecia que ninguém se importava com ele. Surpreendia-se quando alguém passava e dizia olá. Ele, os professores e os colegas sabiam que era um fracassado, segundo todos os padrões convencionais. Resignou-se ao mais baixo ní­vel de mediocridade, ou pior.
Porém, contrariando todas as expectativas, no fundo ele acreditava possuir uma centelha natural de genialidade ou talento: desenhar. Orgulhava-se de seus esboços, mesmo sabendo que ninguém lhes dava importância. No segundo ano do ensino médio, enviou uma série de histórias em quadrinhos para o livro anual da escola. Foram rejeitados. Após o segundo grau, completou um curso por correspondência em arte - sua única formação na área. Depois enviou uma carta ao Walt Disney Studios, na esperança de trabalhar como cartunista.
Solicitaram os desenhos, e ele trabalhou horas antes de enviá-los à empresa. A resposta recebida dos estúdios: uma carta padrão negativa.
Mas Charles sentia que possuí­a um talento peculiar e valioso, mesmo que só para si. Assim reagiu à rejeição de Walt Disney, desenhando sua autobiografia em quadrinhos, um fracassado crônico, um garoto cuja pipa nunca subia, mas alguém que o mundo todo viria a conhecer: Charlie Brown. Charles, mais conhecido como Charles Schulz e seus quadrinhos “Peanuts”, lançados em 1948, tornaram-se um dos desenhos mais famosos da história, chegando hoje a aparecer em 2.600 jornais, em 21 idiomas.
Ao longo dos anos, Charles ganhou cerca de US$ 55 milhões. Cada um dos personagens dos “Peanuts” transformou-se em nomes familiares para cerca de 350 milhões de leitores distribuí­dos em 75 paí­ses. Um vasto potencial humano é desprezado ou se perde porque não entendemos a verdade que Schulz percebeu: ele tinha um potencial único. Mesmo quando ninguém parecia valorizar ou até mesmo admirar seu talento, Schultz adquiriu coragem para desenvolvê-lo com qualidade marcante. Contra todas as expectativas, defendeu esse ponto forte e, no final, emocionou o mundo.
Pergunto-me: o que você traz em seu Í­ntimo neste exato momento? Você tem idéias e sonhos, todos temos. Escondida em seu coração, presa firme aos primeiros obstáculos, está a classe que você devia liderar ou a pré-escola que anseia iniciar. Trancado lá no í­ntimo está o livro que hesita em fazer, por temer que ele não seja lido. Essa riqueza guardada em seu í­ntimo não pode ser herdada pelo cemitério. Você privará esta geração dos sonhos que você tem? Você destituirá esta geração e a próxima levando o tesouro que Deus lhe deu para o cemitério? Morra vazio!
Até morrer, em fevereiro do ano de 2000, Charles Schulz desenhou os mesmos quadrinhos “Peanuts” durante mais de 41 anos. Ele não enriqueceu o cemitério privando as pessoas da alegria e prazer de ler suas tiras. São muitos que morrem ricos, com sonhos agarrados firmemente ao seu coração silenciado. São muitos os que descem à sepultura com seu potencial preso lá no í­ntimo. Se pudêssemos aproveitar o poder não usado de uma sepultura, poderí­amos mudar o mundo! Mas é claro que não podemos, porque aproveitamos somente o potencial dos vivos. Contanto que haja fôlego em nossos pulmões, o potencial não usado continua dentro de nós, esperando para ser liberado.
A razão por que ainda estamos vivos é que trazemos algo dentro de nós de que esta geração precisa. Meu lema é “morrer vazio”. Não pretendo dar outra coisa ao cemitério que não seja a carcaça vazia de uma vida bem vivida. Gostaria que meu epitáfio fosse: “Vazio!” Nada restou pra fazer.
Texto: Dora Guiseline / Sugestão: Wanderley Koyanagui

2 comentários:

Luciana disse...

Muito bom esse texto! Serve de lição pra muitos de nós, inclusive para mim...

Te perguntei se é musico por causa das suas fotos e porque também "respiro música", como você mesmo disse. Toco violão desde os 12 anos, porém aprendi sozinha, sem a técnica correta. Ao longo desses anos toquei pra mim mesma e pra outras pessoas, em barzinhos de BH, mas foi por pouco tempo, pois acabou não dando certo (éramos uma dupla, mas tínhamos condutas bem diferentes... Complicado). Por isso tive a curiosidade de te perguntar, pela minha paixão pela música.

Você tem msn? O meu é luciana.righi@yahoo.com.br

Até mais!

Dora Guiseline disse...

Olá,

Vi que você colocou os créditos deste texto para mim. Embora eu tenha publicado ele em meu Blog, não foi eu que escrevi. Este texto é do Daniel C. Luz, um autor que admiro muito.
Abraços.
Dora Guiseline