Os grandes diretores de Cinema
Alfred Hitchcock
Em 13 de agosto de 1899, Londres, Inglaterra, nascia o mestre do suspense. Alfred Joseph Hitchcock foi um dos mais conhecidos e populares cineastas de todos os tempos.
Com uma carreira de muitos filmes, Hitchcock pode ser definido como um puro pensador do cinema. A partir do cinema, ele pensava o mundo. Em seus filmes, sempre há uma tensão: as coisas só se resolvem no final, mas sabemos quem é o culpado desde o início.
Extremamente técnico, Hitchcock teve influência dos alemães (como Murnau) e dos americanos. Seu pensamento era que o público tinha que sentir o medo.
Hitchcock formou tendências para os filmes "thrillers" seguintes, e inspirou o trabalho de vários outros diretores importantes, como George Romero, Francis Ford Coppola, Dario Argento, Mel Brooks, Brian De Palma e Quentin Tarantino, que homenagearam o cineasta em seus filmes.
Filho de Emma e William Hitchcock, seu pai vendia frutas e verduras, e ele tinha mais dois irmãos. Estudou na rígida escola católica londrina de St. Ignatius College.
Aos 14 anos, com a morte do pai, ele deixou a escola. Começou a trabalhar na companhia Henley, como fabricante de cabos elétricos, onde desenvolveu trabalhos em design gráfico de publicidade.
Sua carreira cinematográfica começou em 1920, na Paramount Pictures fazendo “cartão" que aparecia em diálogos de filmes mudos. Aprendeu rapidamente a criar roteiros e editar. Em 1922, tornou-se cenógrafo e assistente de direção. Entre 1923 e 1925, trabalhou em Berlim, na UFA (Universum Film AG).
A criatividade do mestre do suspense surpreendeu os dirigentes do estúdio, que decidiram promovê-lo e, em 1925, ele ganhou a primeira chance como diretor no filme “The Pleasure Garden”, feito pela Ufa Studios na Alemanha.
Em 1926 Hitchcock casou-se com Alma Reville, num matrimônio que durou 54 anos, até a sua morte (1980). Curiosamente, Alma nasceu quase no mesmo dia do marido, em 14 de agosto de 1899, vindo a falecer em 6 de julho de 1982, pouco tempo depois da morte de Hitchcock.
Alma participou como roteirista e integrante da equipe de produção em dezenas de filmes do cineasta. O casal teve uma filha em 1928, Patricia Hitchcock, que teve sua carreira no cinema lançada pelo pai, e chegou a participar com pequenos papéis em filmes como "Pavor nos Bastidores", "Pacto Sinistro" e "Psicose".
Em 1927 estreou no suspense com o filme “The Lodger: A Story of the London Fog” (“O inquilino”), o que viria a ser seu primeiro sucesso, baseado nos assassinatos de Jack, o Estripador.
Podemos dividir a filmografia do mestre do suspense em duas fases: a inglesa e a americana.
Fase Inglesa
Em 1929, Hitchcock filmou “Blackmail” (Chantagem e Confissão), o primeiro filme sonoro britânico. Em 1933, foi trabalhar na Gaumont-British Picture Corporation, e seu primeiro filme para a companhia chamou-se “The Man Who Knew Too Much” (O Homem que Sabia Demais), de 1934, que seria refilmado em 1956 com outros atores.
O segundo filme pela companhia foi “The 39 Steps” (39 Degraus), em 1935, considerado o melhor filme deste período. É o primeiro filme que Hitchcock usa o elemento de fuga de um inocente. O seu próximo sucesso foi “The Lady Vanishes” (A Dama Oculta, 1938), que envolvia intriga internacional.
Todos esses filmes chamaram a atenção de Hollywood e, em 1939, Hitchcock mudou-se para os Estados Unidos.
Sinopse de “A Dama Oculta”, clássico da fase inglesa:
(The Lady Vanishes, 1938)
Direção: Alfred Hitchcock
Gênero: Suspense
Origem: Reino Unido
Duração: 97 minutos
A jovem estudante Iris Henderson (Margareth Lockwood) sai do interior da Inglaterra, nos anos 30, para ir a Londres. Durante a viagem de trem conhece uma simpática velhinha, Mrs. Froy (Dame May Whitty), que desaparece misteriosamente com o trem em movimento. A história toda gira em torno da procura incessante pela senhora, que aparentemente todos os passageiros negam a existência. Suspeitando de algo grave, Iris insiste em procurá-la, mas não é levada a sério e é até ridicularizada. Ambientado quase totalmente dentro de um trem em movimento, traz surpreendentes movimentos de câmera para a época. Oscilando entre a comédia, o drama e o policial, o diretor cria um clima de suspense constante e uma revelação surpreendente no final. “A Dama Oculta” apresenta em seu enredo todas as características que transformaram Hitchcock no Mestre do Suspense.
Fase americana
Já nos EUA, filmou “Rebecca”, em 1940, que era uma adaptação do best seller de Daphne du Maurier. O segundo filme em Hollywood foi “Foreign Correspondent” (Correspondente Estrangeiro), também em 1940, filmado durante a Segunda Guerra Mundial.
“Saboteur” (Sabotador), de 1942, foi o primeiro de dois filmes feitos pela Universal; “A Sombra de uma Dúvida” foi o segundo, e era um dos filmes preferidos de Hitchcock.
Hitchcock entendeu rápido como funcionava a máquina Hollywood, conseguindo passar tranqüilidade para os produtores – o que ele sabia que garantiria a independência para a realização de seus filmes.
Em 1980, Alfred Hitchcock recebeu a KBE da Ordem do Império Britânico, da mãos da Rainha Elizabeth II. Morreu quatro meses depois, de insuficiência renal, em sua casa em Los Angeles.
Sinopse de “Psicose”, expoente da fase americana:
(Psycho, 1960)
Direção: Alfred Hitchcock
País: Estados Unidos
Duração: 109 min.
Gênero: Suspense
A secretária Marion Crane (Janet Leigh) cede às tentações e decide roubar do chefe uma quantia de 40 mil dólares, sumindo com o dinheiro. Durante sua fuga, o mau tempo faz com que ela se hospede num motel de beira de estrada para passar a noite. Recepcionada por Norman Bates (Anthony Perkins), o solícito gerente do lugar, Marion não deixa de notar uma certa estranheza sobre o rapaz, que também passa por problemas pessoais: o estranho dono do estabelecimento parece ser dominado pela mãe. Quando a moça finalmente é dada por desaparecida, uma busca é iniciada por seu amante (John Gavin), por sua irmã (Vera Miles) e por um detetive contratado para encontrá-la (Martin Balsam).
Curiosidades e características do cinema de Hitchcock
O mestre do suspense despertou a curiosidade do público porque gostava de fazer pontas rápidas em seus próprios filmes, todas não creditadas e como simples figurante. Isso aconteceu em mais da metade dos filmes que dirigiu e o público passou a tentar localizá-lo em seus filmes.
Alguns exemplos de aparições de Hitchcock:
- Rear Window: aparece dentro do apartamento do pianista.
- Psycho: passa a frente do escritório de Marion trabalho com chapéu de cowboy.
- Torn Courtain: aparece logo aos oito minutos segurando um bebê no hall do hotel em que os protagonistas se hospedam.
- Frenzy: aparece no início do filme, no meio da multidão que está às margens do rio quando um corpo da vítima aparece boiando.
- Suspicion: aparece enviando uma carta no posto dos correios da cidade.
- Shadow of a Doubt: aparece num trem, jogando cartas com um homem e uma mulher.
- Spellbound: sai do elevador do Empire Hotel carregando uma maleta de violino e fumando um cigarro.
- Blackmail: aparece em cena como um passageiro no metrô que é importunado por um garoto.
- Family Plot: aparece o seu perfil por trás do vidro de uma porta como se estivesse a falar para outra pessoa e a gesticular.
- Dial M For Murder: aparece no canto inferior esquerdo de uma fotografia pendurada na parede da sala.
- The Birds: aparece passeando pela calçada do lado de fora da loja de animais.
- Lifeboat: aparece posando para fotos "Antes & Depois" a respeito de um remédio para emagrecimento chamado "Reduco", mostrado num jornal durante o filme.
- Rope: aparece duas vezes. Logo no início, aparece atravessando a rua. Mais tarde, uma caricatura de Hitchcock aparece num neon que reflete na janela do apartamento dos assassinos, em Nova York. Esta é uma referência à aparição feita em Lifeboat, onde se lê "Reduco", como na aparição feita quatro anos antes.
Suspense
Música e efeitos de luz enfatizam o clima de suspense nos filmes de Hitchcock: a ansiedade do espectador aumenta pouco a pouco enquanto, o personagem não tem consciência do perigo. São apresentados dados ao telespectador que o personagem do filme não sabe, criando uma tensão no espectador em saber o que acontecerá quando o personagem descobrir. Em “Psicose”, somente o espectador vê a porta se entreabrir, esperando algo acontecer enquanto o detetive sobe a escada.
Outro uso recorrente para o suspense era a inclusão da escada, presente na seqüência final de “Notorious” e na mansão de Norman Bates de “Psicose”.
MacGuffin
MacGuffin é um termo usado pelo cineasta para inserir um objeto que serve de pretexto para avançar na história sem que ele tenha muita importância no conteúdo da mesma. O MacGuffin de "Psicose" é o dinheiro roubado do patrão. O dinheiro só serve para conduzir a personagem Marion Crane até o Motel Bates, mas ao chegar ao Motel o dinheiro perde a importância no desenrolar da história. Já o MacGuffin de "Torn Courtain" é a fórmula que possibilitaria a construção de um anti-míssil. É para conseguir a fórmula que o personagem principal parece desertar para Berlim Oriental, é seguido pela noiva e daí desenvolve-se o enredo.
Personagens femininas
As personagens femininas geralmente são heroínas loiras e amáveis, que quando se apaixonam, tornam-se perigosas. Em “Marnie”, de 1964, a personagem título interpretada por Tippi Hedren é cleptomaníaca. Em “To Catch a Thief”, de 1955, Francie (Grace Kelly) oferece ajuda a um homem que ela acredita ser um gatuno. Em “Rear Window”, Lisa (Grace Kelly novamente) arrisca sua vida entrando escondida no apartamento do personagem Lars Thorwald. Em “Psicose”, Janet Leigh rouba 40 mil dólares e é assassinada por um psicopata.
Personagens masculinos
Os personagens masculinos são geralmente homens com relacionamento conflituosos com a mãe. Em “North by Northwest”, de 1959, o personagem Roger Thornhill, interpretado por Cary Grant, é um homem inocente ridicularizado pela mãe. Em “The Birds”, de 1963, o personagem do ator Rod Taylor luta para libertar-se da mãe possessiva, interpretada por Jessica Tandy. O assassino de “Frenzy”, de 1972, idolatrava a mãe. O vilão Bruno, do filme “Strangers on a Train” odeia o pai e tem uma relação muito próxima com a mãe. Sebastian (Claude Rains), em “Notorious”, tem uma relação conflituosa com a mãe. E mais famosa de todas, o personagem Norman Bates de “Psicose” cuja relação com a mãe é totalmente anormal.
Filmografia da fase inglesa
• O Locatário (The Lodger - A Story of the London Fog, 1927), mudo;
• Chantagem e Confissão (Blackmail, 1929);
• Assassinato (Murder!, 1930) ;
• O Homem Que Sabia Demais (The Man Who Knew Too Much, 1934);
• Os Trinta e Nove Degraus (The Thirty-Nine Steps, 1935);
• O Marido Era o Culpado (Sabotage, 1936);
• O Agente Secreto (Secret Agent, 1936);
• Jovem e Inocente (Young and Innocent, 1937);
• A Dama Oculta (The Lady Vanishes, 1938);
• Estalagem Maldita (Jamaica Inn, 1939).
Filmografia da fase americana
• Rebecca, a Mulher Inesquecível (Rebecca, 1940);
• Correspondente Estrangeiro (Foreign Correspondent, 1940);
• Suspeita (Suspicion, 1941);
• Sabotador (Saboteur, 1942);
• A Sombra de Uma Dúvida (Shadow of a Doubt, 1943);
• Quando Fala o Coração (Spellbound, 1945);
• Interlúdio (Notorious, 1946);
• Agonia de Amor (The Paradise Case, 1947);
• Festim Diabólico (Rope, 1948);
• Sob o Signo de Capricórnio (Under Capricorn, 1949);
• Pavor nos Bastidores (Stage Fright, 1950);
• Pacto Sinistro (Strangers on a Train, 1951);
• A Tortura do Silêncio (I Confess, 1953);
• Disque M Para Matar (Dial M For Murder, 1954);
• Janela Indiscreta (Rear Window, 1954);
• Ladrão de Casaca (To Catch a Thief, 1955);
• O Terceiro Tiro (The Trouble With Harry, 1955);
• O Homem Que Sabia Demais (The Man Who Knew Too Much, 1956);
• O Homem Errado (The Wrong Man, 1956);
• Um Corpo Que Cai (Vertigo, 1958);
• Intriga Internacional (North By Northwest, 1959);
• Psicose (Psycho, 1960);
• Os Pássaros (The Birds, 1963);
• Marnie, Confissões de uma Ladra (Marnie, 1964);
• Cortina Rasgada (Torn Curtain, 1966);
• Topázio (Topaz, 1969);
• Frenesi (Frenzy, 1972);
• Trama Macabra (Family Plot, 1976).
Principais prêmios
Pelo conjunto de sua obra, Hitchcock recebeu o Prêmio Irving Thalberg da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood.
Apesar de indicado seis vezes ao Oscar, cinco vezes como melhor diretor e uma como melhor produtor, jamais recebeu a cobiçada estatueta, juntando-se a outro gênio cinematográfico também nunca agraciado com o prêmio máximo da academia, Stanley Kubrick.
Suas seis indicações aos Oscar foram pelos filmes Rebecca (1940), Lifeboat (1944), Spellbound (1945), Rear Window (1954) e Psycho (1960), como diretor; e Suspicion (1941), como produtor.
É considerado pelo The Screen Directory, uma das mais sérias e respeitadas publicações sobre cinema do mundo, como o "maior diretor de todos os tempos".
Viviane Ponst
terça-feira, novembro 11, 2008
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