Os grandes diretores de Cinema
Para o deleite do prezado leitor, inauguro, a partir de hoje, a série de textos “Os grandes diretores de cinema”. Poderia começar falando de David Griffith e seu “O nascimento de uma nação”. Mas deixarei para uma próxima. Não vou seguir a um critério cronológico, tampouco de nacionalidades: vou seguir falando de diretores que julgo de grande importância (e que gosto também).
Viviane Ponst
Fritz Lang
Temas e figuras obsessivas; homens de boa índole alterados pela necessidade de vingança. Estes são os assuntos preferidos de Fritz Lang.
Friedrich Anton Christian Lang nasceu em Viena, na Áustria, em 5/12/1890. Conhecido como FRITZ LANG, além de grande cineasta, foi também produtor.
Em 1911, com 21 anos, mudou-se para Munique, na Alemanha, oportunidade em que estudou pintura e escultura. Como conheceu amigos que trabalhavam com cinema, foi convidado para trabalhar numa pequena produção e abandonou as artes plásticas.
As habilidades com as artes acabaram sendo aproveitadas no cinema, tornando-o um diretor inovador nos enquadramentos, no uso da luz e, principalmente, das sombras, por conta da influência do expressionismo.
Bem à época da Alemanha nazista de Hitler, Lang e sua esposa, a roteirista Thea Von Harbou, foram convidados pelo chefe nazista, através do Ministro da Propaganda, Joseph Goebbels, para produzir filmes para o Partido.
Após assistir ao filme Metropolis(*), de Lang, Hitler achou que ele era o cineasta ideal para trabalhar com o Partido. Lang não aceitou e fugiu para Paris: ele também tinha medo que os nazistas descobrissem sobre a ascendência judaica de sua mãe.
Devido a um filme fracassado que fez na França ao lado do representante da Fox, Eric Pommer, resolveu se mudar para os Estados Unidos, em 1934.
Executivos da MGM sabiam do talento de Lang e o todo-poderoso David Selznick o contratou. Lang foi bem recebido nos Estados Unidos e passou um ano apenas aprendendo inglês e descobrindo o american way of life. Em 1936 fez sua obra-prima: “Fúria”. Sua obra, nesse período, é marcadamente contrária ao nazismo.
Lang ficou conhecido como expoente dos filmes chamados “noir”. Film noir, do francês, significa filme preto, trata-se de um estilo associado a filmes policiais, que retrata os personagens principais num mundo cínico e antipático. Historicamente filmados em preto-e-branco e caracterizados pelo alto contraste, com raízes na cinematografia característica do Expressionismo alemão, o noir é derivado dos romances de suspense da época da Grande Depressão e do estilo visual dos filmes de terror da década de 1930. Os primeiros Films noirs apareceram no começo da década de 1940.
No final da década de 1950, Fritz Lang retornou para a Alemanha e fez mais três filmes antes de se aposentar. Voltou para os Estados Unidos, onde faleceu.
Algumas sinopses (por cronologia)
(*) “Metropolis” (1927) - conta a história da cidade de Metropolis, no ano de 2026. Em síntese, o filme trata da até hoje atual luta de classes. A humanidade é dividida em duas partes: os intelectuais, que moram na superfície, e os operários, que vivem nos subterrâneos da cidade e trabalham para que ela funcione. A classe oprimida dos subsolos não se diferencia muito das periferias de hoje. A divisão, porém, é abalada quando o filho do prefeito desce aos subterrâneos e acaba se apaixonando por uma operária que tenta liderar seus companheiros contra os maus tratos a que são submetidos.
“A Mulher na Lua” (1929) - retorno de Lang à ficção científica, gênero que o consagrou com “Metropolis”. É a história de um cientista que descobre ouro na Lua e organiza uma expedição até lá. Mas trata-se de um pretexto para um estudo sobre a personalidade humana e as mudanças provocadas pela ambição.
“M, O Vampiro de Dusseldorf” (1931) – Peter Lore interpreta brilhantemente o assassino em série que aterroriza a cidade de Düsseldorf (Alemanha), molestando e matando crianças. No primeiro filme falado de Lang, nota-se que ele não teve dificuldade em fazer a transição do cinema mudo para o sonoro. (vide artigo anterior do blog). “M” foi rodado quase exclusivamente em estúdio.
O filme foi inspirado, provavelmente num fato real, refletindo o clima de terror que predominava na Alemanha, na época da ascensão do nazismo. A idéia surgiu quando o diretor soube de um assassino de crianças, Peter Kürten, que por volta de 1925 cometeu crimes na cidade de Düsseldorf.
O assassino tem uma mente perturbada que precisa de ajuda. Mas a polícia é insuficiente e o povo começa a agir por conta própria. Como bem escreveu Marcelo Lyra, em seu artigo “Dossiê Fritz Lang”, “no desprezo pela ordem e na criação de um Estado paralelo, com direito a julgamento, Lang nos mostra o ovo da serpente, o nazismo em gestação. Destaque para os cenários claustrofóbicos, o uso de sombras, já sua marca registrada, ângulos de câmera distorcidos... Um show de técnica. No julgamento, a multidão é mostrada como uma massa amorfa, bem ao estilo expressionista”.
“O Testamento do Dr. Mabuse” (1933) - o fantasma do Dr. Mabuse (médico psicopata) domina o diretor do asilo onde ele morreu e ameaça um industrial. Quando o homem pede ajuda à polícia, todos os objetos da sua mesa tornam-se de cristal. O truque intriga as platéias até hoje. O final das filmagens foi difícil: Lang já era assediado pelos nazistas e teve de fugir logo depois de encerrados os trabalhos.
Lang nos Estados Unidos
Lang fez 22 filmes na terra do Tio Sam. Alguns são considerados obras-primas, como “Os Corruptos”, “Fúria”, “O Homem que Quis Matar Hitler”, “Rancho Notorius”, entre outros. Sua formação expressionista resultou no visual claro-escuro e no uso de sombras que se tornariam elementos do noir, gênero que ele ajudou a criar.
Alguns filmes dessa fase:
“Fúria” (1936) – Primeiro filme de Lang nos EUA. Conta a história de um homem honesto, acusado de um crime que não cometeu. Apesar de não ser culpado, há evidências contra ele. As filmagens foram conturbadas; houve pressões do estúdio, que não confiava tanto no diretor e impunha alterações no roteiro durante as filmagens. Apesar disso, o resultado foi positivo e o próprio Lang considerava esse seu trabalho preferido.
“A Volta de Frank James” (1939) – Trata-se de um western (e primeiro filme colorido de Lang). É também a primeira vez em que ele faz uma continuação de um filme, “Jesse James”, feito em 1939 por Henry King. Mas no lugar de fazer uma previsível continuação, Lang reconstrói a história do bandido (Henry Fonda) que perdeu o irmão assassinado. Conformado, pretendia levar uma pacata vida de rancheiro. Mas fica sabendo que o assassino foi solto e resolve voltar para um acerto de contas. O filme funciona mesmo que o espectador não tenha visto o filme anterior.
“Os Conquistadores” (1940) - é seu segundo western, também rodado em technicolor. Dois irmãos bandidos. Um deles decide deixar o crime e trabalhar na ferrovia, enquanto o outro tem planos para sabotá-la. Um dos primeiros filmes a mostrar os índios com simpatia, ao contrário da maioria dos westerns desse período.
“O Homem que Quis Matar Hitler” (1941) – Crítica explícita ao nazismo: os nazistas foram tratados de forma caricatural. Walter Pidgeon é um conhecido caçador inglês que está numa floresta na Suíça, próximo à casa onde Hitler está hospedado. Ao vê-lo na alça da mira telescópica de seu rifle, ele dispara sem bala na agulha. É descoberto por um guarda nazista e preso. Numa discussão entre o Hitler e o caçador, Lang mostra o lado patético do ditador alemão.
“Os Carrascos Também Morrem” (1942) - outra vigorosa crítica ao nazismo. O filme trata da resistência da Tchecoslováquia contra os invasores alemães e seu plano para matar um dos líderes, o tal carrasco. Os membros da resistência são na verdade pacatos cidadãos, transtornados pela necessidade de vingança, bem ao modo Lang de filmar. Exprimia um rancor pessoal que Lang nutria pelo Terceiro Reich.
“Um Retrato de Mulher” (1944) - é um dos grandes films noirs de Lang. Trata-se de um drama. Edward Robinson é um pacato professor que leva uma vida medíocre em seu casamento. Um dia, fascinado por uma pintura, acaba conhecendo a mulher fatal retratada e envolve-se com ela. Por conta de um assassinato, passa a ser chantageado. Para Lang, o que importa é a questão da convivência entre o lado bom e o mau que todos possuímos dentro de nós, e que podem aflorar de acordo com as circunstâncias.
“Rancho Notorious” (1952) - é o terceiro e último western de Lang. Arthur Kennedy procura os assassinos de sua mulher e os encontra na região onde está o rancho do título. Ganha a confiança da dona, interpretada por Marlene Dietrich, soberba como a mulher dividida entre dois homens (o outro é justamente o chefe dos bandidos). Este foi um dos filmes mais problemáticos para Lang, que se desentendeu com o produtor Howard Hughes. Este o remontou, o que deixou Lang bastante frustrado.
“Os Corruptos” (1953) – Um dos melhores filmes noirs já produzidos. Glenn Ford é um ex-policial que queria levar uma vida tranqüila, mas tem que encontrar o assassino de sua mulher. Lee Marvin é o bandido sádico, namorado de Gloria Grahame, que, por sua vez simpatiza com Ford e o ajuda.
“Os Mil Olhos do Dr. Mabuse” (1960). Último trabalho de Lang noir, terceiro filme dessa última fase no seu retorno à Alemanha. Lang filmou em preto e branco com um orçamento baixo. Mas o resultado é muito bom. Na história, uma série de assassinatos ocorre num hotel em Berlim e a polícia acredita que o assassino pode ser a reencarnação do Dr. Mabuse. O sucesso de público desse filme aponta para uma urgente revisão da obra desse mestre, um autor que está para o cinema assim como Tolstói ou Cervantes para a literatura.
Filmografia
1960 - Die Tausend Augen des Dr. Mabuse (Os Mil Olhos do Dr. Mabuse)
1959 - Journey to the Lost City
1959 - Das Indische Grabmal
1959 - Der Tiger von Eschnapur
1956 - Beyond a Reasonable Doubt
1956 - While the City Sleeps
1955 - Moonfleet (O Tesouro do Barba Ruiva)
1954 - Human Desire (Desejo Humano)
1953 - The Big Heat (br: Os Corruptos / pt: Corrupção)
1953 - The Blue Gardenia
1952 - Clash by Night
1952 - Rancho Notorious (br: O Diabo Feito Mulher / pt: O Rancho das Paixões)
1950 - American Guerrilla in the Philippines
1950 - House by the River
1948 - Secret Beyond the Door... (br: O Segredo da Porta Cerrada)
1946 - Cloak and Dagger
1945 - Scarlet Street (Almas Perversas)
1945 - The Woman in the Window (Um Retrato de Mulher)
1944 - Ministry of Fear (Feras Humanas]] )
1943 - Hangmen Also Die (Os Carrascos Também Morrem)
1941 - Man Hunt (O Homem que Quis Matar Hitler)
1941 - Western Union (Os Conquistadores)
1940 - The Return of Frank James (A Volta de Frank James)
1938 - You and Me
1937 - You Only Live Once (br: Vive-se uma só vez / pt: Só vivemos uma vez)
1936 - Fury (Fúria)
1934 - Liliom (Coração de Apache)
1933 - Das Testament des Dr. Mabuse (O Testamento do Dr. Mabuse)
1931 - M - Eine Stadt sucht einen Mörder (M, o Vampiro de Dusseldorf)
1929 - Frau im Mond (A Mulher na Lua)
1928 - Spione (Os Espiões)
1927 - Metropolis
1924 - Die Nibelungen: Kriemhilds Rache (Os Nibelungos - a Vingança de Kriemhilds)
1924 - Die Nibelungen: Siegfried (Os Nibelungos - A Morte de Siegfried)
1922 - Dr. Mabuse, der Spieler (Dr. Mabuse, o Jogador)
1921 - Vier um die Frau
1921 - Der Müde Tod (A Morte Cansada)
1920 - Das Wandernde Bild
1920 - Spinnen, 1. Teil: Die Der Goldene See
1919 - Die Pest in Florenz
1919 - Harakiri
1919 - Spinnen, 1. Teil: Die Der Goldene See (As Aranhas)
1919 - Der Har der Liebe
1919 - Halbblut
Fontes: Wikipédia / Mnemocine / Revista De Cinema.
terça-feira, outubro 28, 2008
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