O município de São Domingos do Capim, a 130 quilômetros de Belém, é o palco de um dos fenômenos mais radicais da natureza: o Surf da Pororoca.
Em 1999 aconteceu a primeira competição oficial de Surf na Pororoca, em São Domingos do Capim, que hoje é considerada a "capital da pororoca". Na ocasião, surfistas de várias partes do país se aventuraram nas violentas e atraentes águas do rio Guamá e rio Capim. Entre eles, o carioca Ricardo Tatuí, campeão brasileiro de surf em 90 e 94 e também o campeão do Surf na Pororoca.
Todos os anos, a aventura continua. Aos poucos, os surfistas vão desembarcando em Belém, a capital do Pará, rumo a São Domingos do Capim. O objetivo de todos é sempre um só: vencer o grande desafio de "descer" a pororoca, em pé, numa prancha de surf.
A cidade ficou cheia de turistas e competidores durante o Campeonato Paraense de Surf na pororoca, que aconteceu de 19 a 21 de fevereiro.
Esse é um esporte que além de radical é perigoso e exige um pouco de esforço para ser visto. Já que a competição de Surf na pororoca acontece um pouco distante da praia, para não perder a aventura, o jeito é ficar bem na beirinha da Praia do Pico.
Mas quem não quiser perder nenhum detalhe, tem que ir de barco. E todo cuidado é pouco: não podem ficar muitos barcos no rio, porque a presença deles interfere no movimento das águas, aumentando o perigo no caso da maré estar muito violenta.
As ondas
Do Tupi, "poroc poroc", a palavra "pororoca" significa "grande estrondo". Os índios a batizaram assim devido ao fato de três dias antes e depois das luas cheia e nova, terem o silêncio da mata quebrado pelas vagas de até 4,5 metros de altura, que aparecem de forma mágica, nos rios da Amazônia. Estas ondas acontecem durante as marés de sizígia. Estas marés acontecem pela ação da atração combinada entre sol, lua e terra, que provoca um desnível entre a preamar e a baixamar de até 5 metros.
Outro fator importante para o acontecimento da pororoca é o maior volume das águas no estuário do Amazonas e dos rios. No momento da quebra do equilíbrio entre água doce e água salgada as águas do mar tentam invadir o rio, com pressão titânica, formando uma grande onda, que força a inversão da direção da maré. Esta onda de maré vem a ser surfável ao encontrar bancos de areia, ilhas e margens de rios. É quando formam-se os grandes espumeiros, que dependendo das condições de vento, transformam-se em ondas perfeitas, com paredes de mais de cinco quilômetros de extensão e mais de trinta minutos de duração.
A pororoca é uma onda cheia de peculiaridades, uma delas diz respeito ao direcionamento da pressão da onda. Diferente das ondas do mar, a pororoca tem duas correntezas, uma por cima empurrando para frente e outra por baixo empurrando para trás. Apesar da grande força da onda é muito comum ver, devido a isso, atletas boiando na pororoca. Outro fator interessante é o de que no lip da onda existe outra força que também joga o atleta para trás, por isso as manobras precisam ter muita pressão para impedir de o atleta ser tirado da onda. Na base da onda a corrente está sempre travando a borda da prancha, isso dá uma certa desestabilidade.
A dificuldade da onda depende, também, das condições do vento. Se a pororoca estiver grande, o vento forte e o rio mexido, aí então você vai se encontrar num ladeirão, com o lip fechando e umas marolas na onda. Estas marolas vêem de encontro à prancha como lombadas na pororoca, obrigando o atleta a saltar por cima delas com a prancha, por toda a duração da onda. Esta onda oferece um surf de manobras diferenciadas, onde o maior objetivo é não cair nos obstáculos e fugir do lip sempre quebrando por todos os lados. É adrenalizante.
Além de a pororoca depender da posição da terra em relação à lua e ao sol, de depender do volume das águas no estuário dos rios, de aparecer apenas uma vez por dia, de estar sempre longe dos centros urbanos e de depender de condições de vento, existe ainda um outro fator dificultoso. As maiores pororocas só podem ser surfadas com o apoio de uma lancha. São vários os fatores que obrigam a existência da lancha ou do jet ski. Um deles é a grande força da maré, que arrasta o atleta em direção à foz.
Outro é a necessidade de o atleta acompanhar a pororoca por alguns minutos até que ela abra a parede e o atleta possa surfar. E o mais grave é a questão do "resgate". Resgate? Isso mesmo. Depois que a pororoca passa a velocidade da maré fica entre 20 e 30 Km/h, arrastando o atleta em direção ao mar. Nos picos mais casca grossa, o atleta que ficar no rio, a deriva, por uma hora, estará distante do pico aproximadamente 20 a 30 km de distância. Por isso usamos embarcações motorizadas e, algumas vezes, sinalizadores de fumaça e luz.
Além de muito surf e adrenalina o surf na pororoca oferece um contato íntimo com a natureza. Nos picos da pororoca é comum avistar revoadas de guarás, garças, colhedeiros, marrecos, patos selvagens, araras, papagaios, cardumes de botos, manadas de búfalos, cavalos, cutias, pacas, capivaras e dependendo da sorte pegadas de onça. O ar é dos mais puros do planeta e o silêncio só é quebrado pelos motores dos barcos ou pela pororoca.
O fenômeno
A pororoca é melhor percebida quando da mudança das fases da Lua, ou seja, desde dois dias antes até três dias após, particularmente nos equinócios em cada hemisfério, e com maior intensidade quando das ocorrências de maré viva (sizígia), nas Lua Cheia e Nova.
O fenômeno das marés, ao elevar o nível das águas oceânicas, faz com que as mesmas invadam a desembocadoura dos rios, podendo formar ondas de até dezenas de metros de largura, com até três a cinco metros de altura, e velocidades de até 10 a 15 milhas por hora (trinta a cinqüenta quilômetros por hora).
O fenômeno manifesta-se, no Brasil, na foz do rio Amazonas e afluentes do litoral paraense e amapaense (rio Araguari, rio Maiacaré, rio Guamá, rio Capim, rio Moju), e na foz do rio Mearim, no Maranhão. Esse choque das águas derruba árvores de grande porte e modifica o leito dos rios.
Fontes: Wikipédia / Point Norte / Portal Amazônia
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