Durante dois meses, 80 milhões de caranguejos invadem a Ilha Christmas, no Oceano Índico.
Eles são ultrapontuais. Todo ano, no início de novembro, milhões de caranguejos deixam as tocas na floresta tropical e rumam para a praia na Ilha Christmas. O lugar, um território australiano com 134 quilômetros quadrados, no Oceano Índico (equivalente a cinco vezes o Arquipélago de Fernando de Noronha), 360 quilômetros ao sul da Indonésia, é o cenário de um espetáculo único. Pelo menos 23 espécies de crustáceos participam da marcha. Os mais velhos partem na frente.
Levam duas semanas para chegar à praia, onde cavam milhões de buracos na areia e cruzam. Aí, os machos voltam para a floresta e deixam as fêmeas com os ovos. Duas semanas depois, elas levam as larvas para o mar. Mais três semanas e nascem milhões de filhotes, parecidos com camarões. Os que escapam dos peixes, das aves e das correntes marítimas instintivamente tomam o caminho da mata. Nesse momento, ultrapassam 80 milhões. Oito milhões morrem pelo caminho, atropelados por carros e trens ou devorados por garças. Mas ninguém dá pela falta.
Um ciclo eterno de reprodução e fertilização
Há 5 mil espécies de caranguejos no mundo. Só no Brasil, elas são 300. Eles integram a classe dos crustáceos, grupo ao qual também pertencem a lagosta e o camarão, e são velhíssimos. Surgiram no mar, no período jurássico, há 160 milhões de anos. Foram os ciclos de glaciação do planeta que os empurraram para a terra.
No fim dos últimos períodos gelados, o nível dos oceanos subiu mais do que o normal e depois recuou.
Na terra, ficaram algumas espécies que tiveram chance de evoluir para sobreviver também fora da água. Uma delas foi o caranguejo.
Hoje, eles migram para lançar ovos no mar. No viveiro da Ilha Christmas, a maré vermelha deixa um rastro impressionante. Onde passa consome folhas, frutos e flores, animais mortos e até guimbas de cigarro. Mas, até hoje, nunca atacaram gente.
O paraíso é úmido e congestionado
Apesar dos transtornos, o vai-e-vem dos animais já foi incorporado à rotina dos 2 000 habitantes da ilha. Virou atração turística. O clima úmido do lugar é um paraíso para a espécie.
A região possui uma estação chuvosa dilatada, que vai de novembro a maio, ideal para a reprodução dos bichos. No resto do ano, o clima é seco mas eles se escondem na mata, onde sempre há água.
Para buscar a umidade, cavam poços de até 60 centímetros de profundidade no chão. Na floresta, não lhes falta alimento, pois comem folhas, flores e frutas.
O intrigante é que a marcha tem uma importante função ecológica: além de renovar o solo com as escavações, os excrementos dos bichos fertilizam a terra, garantindo a manutenção do ecossistema da ilha. Tanto que, para protegê-los, 65% do território da ilha foi convertido em parque de proteção ambiental.
O caranguejo vermelho
A espécie Gecarcoidea natalis predomina a ilha. Com as chuvas, os bichos deixam as tocas e partem para o mar. Caminham duas semanas. As fêmeas levam 100 000 ovos no abdomem, cada uma. Na praia, os machos cavam buracos na areia e atraem as fêmeas para a cópula. Depois, abandonam-as incubando os ovos já fertilizados. Em duas semanas, eles são lançados no mar. As larvas bóiam na água, onde há a luz necessária para o seu desenvolvimento. Nesse estágio, que dura três semanas, não conseguem se movimentar sozinhas. Depois de formados, os pequenos animais nadam para o fundo e, por fim, milhares iniciam o caminho instintivo para a floresta. As rochas da praia ficam cobertas por um verdadeiro tapete vermelho-vivo.
Fonte: Superinteressante
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário