sexta-feira, setembro 19, 2008

PÉROLAS MUSICAIS DO PASSADO

Animals – Pink Floyd (1977)

Lançado em 23 de janeiro de 1977, “Animals”, em linhas gerais, é um álbum absolutamente anti-comercial (apesar disso, vendeu cerca de 12 milhões de cópias). Duas faixas de menos de dois minutos, três com mais de dez. Quem o observa de forma desatenta e sem conhecer seu conteúdo pode imaginar que o Floyd estaria voltando ao formato sonoro de “Atom Heart Mother”, o famoso disco da vaca. Entretanto, "Animals" traz uma roupagem completamente diferente de tudo o que eles haviam feito até aquele momento.
O disco todo fundamenta-se no livro “A Revolução dos Bichos” de George Orwell, mas não limita-se a ele. Apesar de algumas sutis doses de sarcasmo, “Animals” é um trabalho sério, no qual o genial Waters expressa sua fúria contra a sociedade capitalista e os que detém o poder oprimindo injustamente os menos capacitados. Para desenhar esse mundo, o baixista e compositor divide as pessoas em três categorias animalescas, que levam os títulos das faixas dois, três e quatro ("Dogs", "Pigs" e "Sheep").
Para ele, “Pigs” são quem detém o poder, os políticos inescrupulosos, aqueles que controlam as massas. Waters refere-se a eles como pessoas sem coração, de atitudes falsas para ludibriar as outras classes e manter a aparência de que tudo está bem. Margareth Tatcher, ex-Primeira Ministra inglesa, é citada na música, assim como Mary Whitehouse, famosa moralista e inimiga do Pink Floyd.
Waters conceitua “Dogs” como os burgueses que fazem qualquer coisa para subir na vida, e quem sabe um dia tornarem-se “Pigs”. Trechos da música trazem claramente a forma maquiavélica pela qual agem para alcançar seus objetivos sórdidos (“A certain look in the eye, and an easy smile, You have to be trusted, By the people that you lie to, So that when they turn their backs on you ,You'll get the chance to put the knife in…”).
Outra interpretação trataria os “Dogs” os repressores, aqueles que, pelas ordens de outros ("Pigs"), usam o poder para manter a ordem. Sob esse prisma, “Pigs” e “Dogs” seriam aliados.
Entretanto, creio não ser essa a melhor visão. Primeiramente, o disco deixa claro que os “Dogs” desejam ardentemente tornar-se “Pigs”, e mostram-se inconformados por sua situação de ascendentes. Além disso, veja-se que na última estrofe de “Sheep”, Waters menciona que os “Dogs” teriam sido exterminados (certamente em função da ameaça que poderiam representar ao reinado dos “Pigs"), e que só teriam sobrado "Pigs" (dominantes) e "Sheep" (dominados).
Em outro trecho da música, Waters fala sobre o trágico fim dos “Dogs”: solitários, questionando-se sobre valores morais, e morrendo de câncer pelo remorso de seus atos. Curiosamente, mesmo após detonar os caninos, Waters, na segunda parte de “Pigs on the Wing”, refere-se a si mesmo como um “Dog”.
Por fim, o baixista traz ao público “Sheep”. A referência de ovelhas são para o povo, que sem querer e-ou poder pensar, segue fielmente e sem questionamentos os seus líderes. Waters usa termos como “submisso” e “obediente” para referir-se ao povo oprimido.
No curso da música, Waters faz menção a atos revolucionários para que as ovelhas deixem de ser um rebanho pacífico (“March cheerfully out of obscurity, Into the dream”), mas em seguida frustra as expectativas das ovelhas, alertando-as para a necessidade de submissão aos porcos, caso queiram sobreviver, já que os próprios “Dogs” teriam sido exterminados por causa de sua inquietude.
Também há explícitas referências ao Salmo 23, em “Sheep”, como uma clara crítica à Igreja e à forma pela qual a religiosidade age para tornar o povo submisso e seguidor de lideranças previamente determinadas.
Em relação a “Pigs on the Wing" (Partes 1 e 2), a primeira e a quinta faixa devem ser avaliadas juntas. Ambas são raríssimas declarações de amor de Waters à sua esposa, Caroline. Roger tenta dizer, em outras palavras, que apenas o amor e a mútua proteção podem protegê-los dos males causados pelos “animais” e pela sociedade como está posta.
Apesar do fundo político-social, e da constante busca das letras em evidenciar as desigualdades e a ganância, “Animals” também tem em sua musicalidade um ponto muito forte.
“Pigs on the Wing” trazem consigo uma suavidade intensa no dedilhar do violão e na voz levemente esganiçada de Waters, para introduzir (faixa 01) e fechar o disco (faixa 05), como se fossem uma casca, preparando o brilhante recheio.
“Dogs”, apesar dos seus 17 minutos, está muito longe de ser cansativa. Talvez seja a mais “floydiana” das faixas: a harmonia dos solos de Gilmour (ouça a música e diga se ela não vai preparando terreno para os solos), as distorções antes da parte final, a inigualável presença do baixo, os brilhantes questionamentos de Waters ao final...
“Pigs” e “Sheep” mantém uma linha rítmica mais constante. Novamente aqui David Gilmour faz a diferença, quer na magistral condução instrumental da primeira ou do frenético ritmo dos solos e riffs da última, onde Wright também aparece de forma destacada. Um amigo uma vez me disse que Gilmour toca com a alma, e suas mãos só executam o comando.
Animals é o melhor disco do Floyd? Não tenho a pretensão de fazer ninguém acreditar nisso, até por que sei que essa discussão é inútil, e também porque eu mesmo acredito que eles fizeram algo melhor, antes e depois da separação de Waters e Gilmour.Entretanto, é um álbum que merece ser ouvido, avaliado, dissecado. Seu contexto, seu formato, sua musicalidade, o momento no qual foi gravado. Tudo remete à genialidade compositora de Waters e à sublime suavidade melódica de Gilmour, diametralmente opostos, mas ainda juntos, como dia e noite, como Grêmio e Inter, como cérebro e espirito. Sem dúvida, discoteca básica para qualquer amante do Rock’n Roll.


A capa

A capa de Animals é considerada uma das melhores da história e o anúncio do álbum na época foi no mínimo espetacular. As fábricas evocam uma atmosfera de poder. Segundo Waters, o porco que aparece sobrevoando a área, era pra demonstrar ganância. Como Waters não queria um porco colocado artificialmente na capa, construiu-se um artefato gigantesco em formato de um porco que, cheio de gás hélio, ficaria flutuando em volta da Battersea Power Station, uma usina elétrica instalada às margens do rio Thames. Um batalhão de fotógrafos foi chamado para testemunhar e fotografar o lançamento do ''balão'' de hélio, que foi construído na Alemanha, pela Baloon Fabrik, a mesma que fabricou os famosos zepelins. As fotografias seriam usadas na capa do álbum e no material promocional do novo álbum.
No primeiro dia, talvez por falta de combustível, o porco metálico não saiu do chão. No segundo dia, uma nova tentativa foi feita e desta vez o porco não apenas voou, como se soltou do cabo que o prendia e passou a flutuar livremente pelo céu. O primeiro a dar sinal da visão insólita foi um piloto de um avião que deu testemunho de sua visão depois de descer no aeroporto de Hearthrow. Foi dado o alarma aos aviadores de que um porco cor-de-rosa, com mais de 40 pés estava flutuando sobre Londres. O contato do radar com o ''bicho'' perdeu-se quando indicava que ele estava voando a 18 mil pés de altura em direção à Alemanha. Finalmente ele desceu à terra, ainda na Inglaterra, em Kent.
Vale ressaltar, que um atirador foi contratado caso o porco se soltasse. No entanto, ocorreu o esperado. O porco soltou-se e o atirador falhou em sua tentativa. Pelo perigo representado a toda a aviação, a banda teve que pagar uma pesada multa ao governo britânico pelo ocorrido.Desde então, o porco acabou virando símbolo da banda e podia ser visto em todas as apresentações ao vivo, flutuando sobre o palco e o público.


Faixas

1 - Pigs on the Wing (part 1) - 1:25
2 - Dogs - 17:08
3 - Pigs (Three Different Ones) - 11:28
4 - Sheep - 10:20
5 - Pigs on the Wing (part 2) - 1:25







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Versão inédita de "Pigs On The Wing"

Confira abaixo uma versão extendida e inédita de "Pigs On The Wing", que inclui um belíssimo solo de guitarra de David Gilmour.


Fontes: Whiplash / Vitrola Gozada / Pink Floyd – A Viagem Psicodélica

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