quinta-feira, agosto 28, 2008

Aprendendo a viver o presente

Aprendendo a viver o presente

Há duas grandes infelicidades que pesam nas nossas vidas: o passado e o futuro, e a relação com a questão da morte. Quando o passado foi feliz, é a nostalgia. Quando foi triste, é a culpabilidade, o remorso e o arrependimento, o que podemos chamar de paixões tristes. Então, deixa-se o passado para se precipitar no futuro e nos imaginamos que trocando de carro, barco, casa, profissão, marido, mulher etc, tudo vai ficar melhor.

A verdade é que transportamos nossas preocupações e infelicidades conosco, e as coisas não se tornam melhores porque se trocou um Peugeot por um Mercedes. Não muda nada no fundo da existência humana. O grande tema é que à força de viver no passado ou no futuro, perde-se de viver a única realidade que seja real, ou seja, o presente.
E qual a relação disso com a morte? Quando refletimos, vemos que todos os medos, inclusive o medo da morte, se enraízam, sem exceção, nessas duas dimensões do tempo que são o passado e o futuro. O sábio é aquele que consegue, num mesmo movimento, viver no presente e viver na serenidade. Porque ele vive no presente, ele se desvencilha dos medos que habitam essas duas dimensões irreais do tempo que são o passado e o futuro, porque o passado não existe mais e o futuro ainda não existe.
Há uma relação entre a capacidade de se reconciliar com o presente e a vitória sobre os medos, principalmente o medo da morte, que nos impede de viver. Pensar na morte não é algo mórbido. Para bem viver é preciso ser capaz de bem morrer.
Para bem viver é preciso superar os medos, e isso chamamos de sabedoria. E o amor da sabedoria no permite superar os medos que nos impedem de viver.
É preciso pensar na morte, se preparar, o medo é aprisionado. É uma ótima estratégia. Mas a idéia é de que pensar na morte não é algo negativo, mórbido ou pessimista.
O melhor que se pode fazer na vida é alcançar a serenidade e vencer os medos, o que já é enorme. Na verdade, não vencemos nunca os medos, os guardamos, mas, para usar uma metáfora, podemos tentar fazer algo um pouco como o judoca faz quando utiliza a força de seu adversário. Talvez não possamos alcançar a felicidade, mas podemos superar os medos, ampliar os horizontes. A imensa chance que nos é dada nesta terra é a de, pela liberdade, nos separarmos de nossas particularidades do começo.


Texto: Fernando Eichenberg

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