A triste realidade olímpica brasileira
É inevitável comentar o desempenho do Brasil nas Olimpíadas de Pequim.Vendo os números finais é fácil de concluir que a atuação de nosso país nas Olimpíadas foi no mínimo um total fracasso, afinal um país do tamanho do nosso, e com a delegação que levou, deveria no mínimo ter conquistado um maior número de medalhas.
O Brasil é um celeiro de craques, dizia-se no passado, nos tempos das glórias futebolísticas, nos campeonatos mundiais de 58, 62 e 70. Desde então, muita coisa mudou infelizmente para pior. Considerando as conquistas do passado, o país não aprendeu nada, muito menos desenvolveu uma estrutura digna para colocar em evidência o nosso talento.
Que o diga Ademar Ferreira da Silva, nosso bicampeão olímpico do salto tríplo que foi competir tuberculoso em 1960 nos Jogos de Roma.O governo brasileiro, independente da época, nunca investiu no esporte como forma de valorizar a cidadania, e as medalhas que nossos atletas ganham, é muito mais por obra do acaso do que pela estrutura do esporte em nosso País.
A questão do apoio, e a falta de infraestrutura para a prática e treino de algumas modalidades esportivas realmete justificam, mas e quanto a países como Ucrânia, Jamaica, Quênia, Bielorússia, Etiópia e tantos outros que terminaram no quadro de medalhas na nossa frente e que possuem condições e apoio significativamente bem piores que a do nosso país?
O que dizer do basquete? Um esporte que já teve Oscar, o "mão santa", a inigualável Raínha Hortência e a inesquecível Magic Paula, hoje infelizmente desaba pelas cestas sem rumo e é deixado de lado por atletas que dispensam seu patriotismo em troca de salários milionários e fama na NBA americana. E a ginástica rítmica? Colocou nos ombros de meia dúzia de valentes meninas e meninos a responsabilidade de representar um esporte cada vez mais evoluído nos demais países que competiram e deram show na China.
É triste ver que na nossa seleção olímpica de futebol masculino existem jogadores que ganham milhões e milhões de dólares, enquanto que representantes de outras modalidades choram e são humilhados por não terem dinheiro para bancar seus próprios gastos referentes a seus treinamentos. É triste ter que ver nosso Presidente da República dizer que o desemprenho do Brasil foi "até que razoável".
É triste termos que contemplar nossas minguadas medalhas de bronze.
É triste o enaltecimento delirante das pessoas que se referem ao nadador norte-americano Michael Phelps como "um gênio mágico", e sequer reconhecerem nossos atletas César Cielo, Maurren Maggi, a seleção feminia de futebol e vôlei, estes sim, verdadeiros fenômenos. É obrigatório ressaltar o nadador César Cielo que treinou seis horas por dia nos três últimos anos, numa cidade do interior dos EUA, sustentado pelos próprios pais e pela ajuda de alguns amigos, pois sequer recebe um auxílio oficial.

Jamais esqueceremos a trise cena do ginasta Diego Hipólito caindo no chão no final da sua apresentação, e que em lágrimas veio a pedir desculpas, quando na verdade não tinha culpa de nada. Jamais esqueceremos as lágrimas de inúmeros outros atletas brasileiros dizendo em prantos que não deu, pedindo desculpas dando satisfações e se explicando aos familiares e ao povo.
Não há quem não tenha se sensibilizado com a derrota da heróica seleção brasileira de futebol feminino na final para as norte-americanas. Nossas meninas, melhores tecnicamente, foram vencidas pela falta de condições emocionais e pela inferioridade tática. Em resumo, por não terem a estrutura necessária.
Com a bola nos pés, nenhuma jogadora do mundo supera Marta, que começou a jogar pelo Vasco da Gama e que presenciou sua equipe desaparecer, devido a falta de patrocinadores e de incentivo. Mas mesmo assim, a brasileira não se deu por vencida e continuou treinando e fazendo alguns jogos amistosos com equipes pelo Brasil. Marta encantou o planeta futebol com seus gols e dribles desconcertantes, o que lhe valeu o título de melhor jogadora do mundo pelo segundo ano consecutivo.
A fábrica de ilusões que mostra o Brasil da Rede Globo, contrasta com a realidade de um país onde seus cidadãos e cidadãs atletas, precisam comer o pão que o diabo amassou para escreverem suas histórias nas competições. Nos países onde a cidadania é valorizada, o esporte é parte integrante da formação do caráter de cada criança, que desde os primeiros passos, já é observada, pois, se tiver a genética apontando para uma boa estatura ou envergadura, vai ser preparada, para o basquete, para o vôlei, ou para a natação, já na escola.
Para ser vencedor no esporte, é preciso talento, mas para apresentar ao mundo essa característica, é preciso que um atleta seja respeitado, valorizado em sua essência cidadã, aperfeiçoado em sua capacidade competitiva, acima de tudo é preciso que em sua consciência ele tenha a clareza do que representa para o seu País.Além de todo estes problemas, ainda temos que aturar "estranhos acontecimentos" que parecem acontecer apenas com atletas brasileiros.
O que dizer do fato inusitado ocorrido com a atleta do salto com vara Fabiana Murer, que teve sua vara literalmente "extraviada"? Durante a discussão com os organizadores, Fabiana mandava os chineses procurarem pela vara, enquanto eles diziam o mesmo para ela. O impasse não foi resolvido. E, em plena Olimpíada, a maior de todas as competições, sobrou para a brasileira. O espírito esportivo não tomou conta das outras atletas. Ninguém mostrou qualquer tipo de solidariedade nem nada parecido.
E quanto ao maratonista brasileiro Vanderlei Cordeiro de Lima que durante a prova nas Olimpíadas da Grécia foi agarrado por um invasor, que saiu do meio da torcida e furou o bloqueio de segurança? Segurando um cartaz e vestindo roupas tipicamente irlandesas, o penetra empurrou e quase derrubou o atleta fora da pista. Logo em seguida, torcedores, voluntários e seguranças livraram Vanderlei. O problema abalou o brasileiro, que saiu fazendo cara de dor e colocou a mão na perna direita.
Apesar do problema, Vanderlei comemorou muito o resultado, mesmo não recuperando a liderança perdida e terminando com a medalha de bronze. Antes mesmo de cruzar a linha de chegada, ele abriu um sorriso e abriu os braços. Aplaudido, ele mandou beijos para a torcida e dias depois perdoou o invasor que o prejudicou. O brasileiro garantiu que só quem corre uma maratona sabe a dificuldade de retomar o mesmo ritmo depois de uma parada abrupta.A minha indignação nestes casos fica por conta do pouco caso e pela falta de respeito com os atletas brasileiros por parte dos Comitês Olímpicos. A dúvida em questão é se tais fiascos tivessem acontecido com atletas de países do primeiro mundo, como os Estados Unidos, por exemplo.
Apesar de tudo, já é hora também do Brasil se valorizar e de receber o devido respeito merecido. O correto seria o atleta brasileiro se coscientizar e aprender a pensar grande, tomando conhecimento que somente o topo do pódio interessa.
Mas como isso seria possível se o atleta já parte para a competição totalmente desmotivado e inesperançoso?Até quando, e em quantas Olimpíadas mais, teremos que assistir um festival de eliminações de atletas brasileiros? Ou então frases do tipo: “Não sei o que deu de errado”, “Fiz o melhor que consegui, mas não foi dessa vez”.

Texto: Ricardo M. Freire / Sugestão: Wilson Freitas















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